Um dos maiores especialistas no Brasil em pavimento urbano ajudou a escrever o Manual inédito no país
A Prefeitura de São Paulo mudou a forma de recuperar as vias em que o asfalto virou buraco com o tempo. Metodologia, equipamentos utilizados, treinamento técnico dos operadores, material usado e os relatórios para aferir a qualidade, trouxeram à Operação Tapa-Buraco mais eficiência no processo.
Se em 2017 o Tempo Médio de Atendimento (TMA) era de 121 dias, entre a solicitação e a execução do serviço, hoje caiu para 7 dias. E desde 2021, o TMA está abaixo da meta estipulada pela Prefeitura, de 10 dias.
“A cidade de São Paulo se tornou uma referência nacional para a operação Tapa-buraco”, afirma Mauro Beligni, mestre em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da USP e um dos consultores responsáveis pelo desenvolvimento do Manual para a Operação do Tapa-Buraco. Beligni tem larga experiência internacional em projetos que envolvem o asfalto em vias na Suíça, Alemanha, além da construção de aeroporto e consultoria em tecnologia de misturas asfálticas para empresas brasileiras e concessionárias de serviços públicos.
Equipe de conservação de malha viária realizando o serviço de Tapa-buraco
Especialista em pavimentação, Beligni destaca que o manual definiu regras para o asfaltamento. “Uma área com problema, mas com duas patologias muito próximas, a gente recomenda executar apenas uma intervenção que contemple os dois buracos, ao invés de fazer vários remendos pequenininhos”.
O Estado de São Paulo tem o desafio de ter a maior frota do país com mais de 32 milhões de veículos e por onde atravessa grande parte da produção nacional. A cidade de São Paulo tem mais de 9 milhões de veículos, conferindo à capital ter três vezes a frota que tem o Rio de Janeiro, segunda no ranking das cidades com mais veículos. Os dados são da Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN). Para compreender a melhor maneira de cuidar da malha viária da capital paulista, que tem 17 mil quilômetros, a Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB) contratou, em 2019, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) para elaborar um manual para reparo em asfalto na cidade, inédito no Brasil.
A definição dos equipamentos foi primordial para a qualidade do serviço. O destaque fica para o caminhão TBR, uma espécie de caixa térmica que armazena a massa asfáltica e mantém a temperatura ideal para a aplicação, permitindo que no transporte não haja perda da qualidade da massa nem das especificações técnicas. “O asfalto quando ele está em alta temperatura fica menos viscoso, fluido e fácil de trabalhar. Quando a temperatura cai, ele fica mais duro e fica mais difícil de compactar a mistura asfáltica”, esclarece Beligni.
Em 2022, os TBRs transportaram 406.406,11 toneladas, utilizados em 131 mil reparos no asfalto, que equivalem a uma área de 2.6 milhões m² e contemplam 148 mil buracos, além de consertos em guias e sarjetas (concordância).
Concessionárias
Na cidade de São Paulo são 136 concessionárias ou permissionárias têm autorização para realizar intervenções no pavimento público na cidade de São Paulo. As empresas devem atender à legislação regulamentada pela Lei 13.614/2003, os Decretos 58.756/2019, 59.108/2019, 59.671/2020 e a Instrução de Reparação (IR) 01/2018. “A prefeitura conta com Sistema Geoinfra-Gestão de Infraestrutura Urbana para fiscalizar as concessionárias, todas as obras e serviços são informados através do Sistema”, explica o diretor do Controle de Uso de Vias Públicas (CONVIAS/SMSUB), Alex Campos.
Quando em desconformidade com a lei, as concessionárias podem sofrer sanções legais. Em 2023, foram aplicadas 207 multas por intervenções em não-conformidade ou pela demora para realizar a readequação do asfalto. Destas, 98,55% foram para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). “Em 2020, os reparos em não-conformidade somavam 86%, agora são 42%. Enquanto isso, as intervenções em conformidade representavam 14% e hoje, são 58%”, aponta Campos.
Fiscalização
Além do Manual de Especificação Técnica para Execução dos Serviços de Tapa-buracos, disciplinados na Portaria SMSUB n.º 42 de 11 de novembro de 2019, foram ministrados cursos para todas as equipes da Prefeitura com ligação direta na execução e fiscalização do Tapa-buraco: “Hoje todo mundo está com o mesmo nível de conhecimento, tanto quem executa, quanto quem controla a execução, todo mundo tendo essa especificação técnica é mais fácil de você fiscalizar o que está sendo executado”, conta Mauro Beligni.
Consciência ecológica
O manual prevê também como o RAP (Recycled Asphalt Pavement/Pavimento Asfáltico Reciclado) deve ser utilizado: “O RAP é fundamental para a cidade de São Paulo, visto que tem muitos serviços de fresagem e não tem onde se colocar esse material fresado, então esse material é utilizado no tapa-buraco, pode ser utilizado para segmentos de recapeamento contínuos e também para reconstruções de pavimentos ou implantações de pavimentos novos. É fundamental, hoje em dia, com o problema do meio ambiente, a preocupação em reutilizar matérias-primas”, concluí esclarece Beligni.
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