Mulheres são maioria nos quadros
estatais, mas seguem ganhando 24% menos do que os homens
Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, Artur
Marques, presidente da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São
Paulo (AFPESP), salienta ser necessário promover rápido avanço na igualdade de
gênero nos quadros de recursos humanos da União, estados e municípios. "Se
já é bastante representativa a presença feminina no conjunto dos servidores,
cerca de 60% do total, seu salário médio segue 24% menor do que o dos
homens", alerta, citando estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA). O dirigente enfatiza ser necessário trabalhar muito no combate a essas
assimetrias, inclusive em caráter referencial para para todo o País.
De modo coerente com os dados nacionais, nos quadros ativos do
funcionalismo público do Governo do Estado de São Paulo, há 284 mil mulheres
(50,4% do efetivo) e 280 mil homens (49,6%). As informações abrangem
secretarias, fundações, autarquias, empresas e universidades e são da Unidade
de Recursos Humanos da Secretaria de Projetos, Orçamento e Gestão.
Cabe destacar o papel decisivo das mulheres no ensino. A
Secretaria da Educação é a pasta com maior presença feminina, com 73% do total.
"São as professoras demonstrando sua vocação e competência para o
Magistério e a formação das novas gerações, num trabalho de imensa relevância
para a sociedade", frisa Artur Marques.
Na Secretaria da Saúde, trabalham 28.3231 servidores, sendo 70,8%
do sexo feminino, o que representa mais de 20 mil profissionais. São médicas,
enfermeiras, dentistas, nutricionistas, fonoaudiólogas, fisioterapeutas,
agentes de saúde, pesquisadoras, auxiliares e profissionais de distintas
funções. "O trabalho das mulheres na saúde, aliás, foi um notável exemplo
recente do heroísmo do funcionalismo público na luta contra a pandemia",
frisa o presidente da AFPESP.
As mulheres, aliás, são a principal força de trabalho na saúde
brasileira, representando 65% dos mais de seis milhões de profissionais
ocupados nos segmentos público e privado, tanto nas atividades diretas de
assistência em hospitais, quanto na atenção básica. É o que indicam dados do
IBGE.
Em algumas carreiras, como fonoaudiologia, nutrição e serviço
social, as profissionais representam quase a totalidade, ultrapassando 90% do
total. Em outras, como enfermagem e psicologia, sua participação supera a 80%.
"Infelizmente, persiste a inaceitável desigualdade salarial", aponta
Artur Marques.
A diferença de ganhos entre os profissionais da saúde é indicada
com clareza em estudo de 2018: a quarta edição da Pesquisa Demografia Médica no
Brasil, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com
apoio do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e do
Conselho Federal de Medicina (CFM). Os pesquisadores indicaram que 80% das
mulheres da área ocupam as três classes de renda inferiores e 51% dos homens
estão nas três mais elevadas. Com relação aos níveis salariais mais altos, 17%
são direcionados aos médicos e apenas 4% às médicas. O setor público,
reafirma-se, é parte significativa desse estudo.
Nas profissões jurídicas do Estado, a presença feminina segue
minoritária. A mais recente pesquisa da Associação de Magistrados Brasileiros
(AMB) mostra que o percentual de ingresso de mulheres na carreira caiu em
relação à primeira década do século, quando elas eram 41% dos ingressantes,
para 34% entre 2010 e 2018. Hoje, as juízas representam apenas 38% dos quadros.
O estudo Cenários de Gênero (2018), lançado pelo Conselho Nacional do
Ministério Público, mostra que os quatro ramos do órgão e as 27 unidades nos estados
contavam com 5.114 promotoras e procuradoras (39% do total), ante 7.897 homens
(61%).
Avanços e exemplos
O presidente da AFPESP ressalta que, a despeito dos avanços nos
últimos anos, é preciso ir além no combate às desigualdades. "Nesse
sentido, bons exemplos são fundamentais, como procuramos fazer em nossa
entidade, em cuja Diretoria Executiva, constituída por seis cargos, exatamente
metade é ocupada por mulheres: Rosy Maria de Oliveira, segunda vice-presidente;
Lizabete Machado Ballesteros, diretora Econômico-Financeira; e Rosely Duarte
Corrêa, segunda tesoureira".
Para Artur Marques, é prioritário manter a mobilização para
mitigar a discriminação salarial e na presença em cargos de liderança. "No
setor estatal, em particular, trata-se de meta significativa. Afinal, dada sua
competência, o trabalho das funcionárias públicas não é importante apenas para
a conquista da impreterível igualdade de gênero. Também é decisivo para que
toda nossa população seja empoderada pelas prerrogativas da cidadania",
afirma.
O dirigente também acentua que, além da questão intrínseca da
civilidade e dos direitos humanos, é cada dia mais consensual o significado da
pluralidade para a eficiência das organizações. Conforme estudo da McKinsey
& Company, empresas com diversidade étnica e racial têm 35% mais chances de
auferir rendimentos acima da média do seu setor. As que apresentam diversidade
de gênero contam com 15% a mais de probabilidades de conquistar resultados
superiores. "Precisamos caminhar cada vez mais nessa agenda", conclui
o presidente da AFPESP.