SANTOS
20/12/2022 05H43
De cerca de 100 chamados feitos diariamente ao número 192, 80 deles são solicitações que não deveriam ser destinadas a um Serviço de atendimento Móvel de Urgência (Samu) ou trotes. Por esse motivo, o Samu decidiu lançar uma campanha inédita em Santos para conscientizar a população, explicando em detalhes quando o atendimento deve ser acionado pelo munícipe. O objetivo é evitar a saída de ambulâncias para ocorrências que não sejam emergenciais, afinal, o deslocamento desnecessário do veículo pode custar a vida de uma pessoa.
O alerta é feito pelo chefe do Núcleo de Educação Permanente (Nep) do Samu, Carlos Alberto Yoshimura, também conhecido como Betinho. Ele explica que as orientações aos santistas serão passadas por panfletos informativos que serão distribuídos nas ruas e pelas redes sociais do Samu.
“Desde que o Samu foi criado não houve nenhuma campanha de conscientização e de informação sobre seu uso. Então, temos 80% de chamados que não deveriam ser feitos para o serviço e, destes, 18% são trotes. Nosso modelo foi inspirado na França. Lá, durante sete anos consecutivos, houve campanhas conscientizando a população e, se alguém fizer um chamado desnecessário, será repreendido pelo telefone”, diz o chefe do Nep.
O SERVIÇO
O trabalho na sala de atendimento do Samu é 24 horas. São profissionais da área de saúde, incluindo médicos e enfermeiros, prontos para dar as primeiras orientações a quem busca o atendimento e, ao mesmo tempo, acionar ambulâncias e equipes que irão às ruas prestar socorro médico.
“O Samu é diferenciado porque tem médico e enfermeiros na ambulância e na central de regulação. São equipes super treinadas, então, a gente faz a diferença nas ruas”, acrescenta Yoshimura.
Santos possui 17 veículos destinados para o atendimento, incluindo os quadriciclos que começaram a operar no final de semana para atendimento emergencial na faixa de areia - os primeiros em todo o Litoral. Há ainda o Suporte Avançado de Vida, uma espécie de UTI Móvel, que conta com médico, enfermeiro e socorrista. Parte da frota fica localizada em pontos estratégicos da Cidade e as demais na sede da entidade, no bairro Encruzilhada.
Apesar de o número ser considerado bastante adequado à população, a preocupação é sempre constante entre os profissionais. Se algo falhar neste meio, com demandas ou trotes, que vão colocar ambulâncias nas ruas para situações inexistentes ou não emergenciais, o tempo-resposta para um atendimento primordial pode ficar bastante prejudicado.
A recomendação é colocar na prática aquela velha história de se colocar no lugar do outro. Sim, ela serve para o momento de acionar o Samu. É necessário se perguntar: é realmente uma situação de emergência? Há risco de morte? Por que, ao digitar 192, esse chamado pode ocupar o tempo de um veículo, que pode chegar tarde demais para atender a uma vítima de infarto, por exemplo.
"Temos equipes super treinadas, mas os recursos estão sendo muito subutilizados. O excesso de chamado para casos que não precisam do Samu sobrecarrega os profissionais em atendimento, prejudicando quem realmente necessita".
EMERGÊNCIA E URGÊNCIA
Yoshimura diferencia os casos de emergência e urgência no atendimento médico. "Emergência é o top do top, aquela situação de risco de vida iminente, ou seja, vai morrer se não fizer nada. Na urgência, a pessoa pode esperar um pouco”.
Entre os casos de emergência estão tudo o que envolve uma parada da respiração, como engasgamento, afogamento, parada cardiorrespiratória, infarto agudo do miocárdio ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). Essas, de acordo com chefe do Nep, são emergências que representam risco de vida iminente.
“Mas 80% são os chamados desnecessários, como uma entorse, uma queda que não teve repercussão, viroses, diarréias. E pode ocorrer de todas as ambulâncias estarem atendendo este tipo de situação, entrar um atendimento de emergência, mas não ter veículo porque todos estão na rua em atendimento. Então, é uma subutilização de um recurso que a gente tem e que vale ouro. E isso ocorre não somente em Santos”, informa Yoshimura.
PERGUNTAS QUE SALVAM
No telefone, cada pergunta feita pelo atendente do 192 tem importância vital e pode representar o sucesso no socorro à vítima. Por isso, por mais tenso que esteja no momento, atenção e respeito aos servidores também são vitais. Outra dica: o recomendado é que a ligação seja feita por quem tenha condições de prestar as informações solicitadas.
“O médico do Samu faz uma consulta por telefone para imaginar um cenário que está do outro lado e definir o tipo de atendimento e veículo necessário para o caso. Ele precisa saber exatamente o que está acontecendo. Mas tem gente que, por ignorância ou má fé, aciona e não responde ao questionário corretamente. Porque, quando os profissionais chegam ao local, muitas vezes o relatado não é a situação real. Isto sobrecarrega o sistema. Sem contar que muitas vezes, os profissionais são xingados, maltratados e até ameaçados”.
SAMU NÃO É TÁXI
Muitos chamados também ocorrem com munícipes pedindo auxílio para ir para um hospital ou levar um familiar para consulta. “Em Santos, temos uma pactuação com os hospitais privados. Quando a gente atende uma situação de emergência, se a pessoa tiver convênio, para desafogar o sistema público, levamos para a referência conveniada. Porém, tem gente que acha que somos ‘Samuber’”, diz o chefe do Nep.
QUANDO CHAMAR O SAMU
Ocorrência de problema cardiorrespiratório
Intoxicação exógena e envenenamento
Queimaduras graves
Ocorrência de maus tratos
Trabalhos de parto em que haja risco de morte da mãe ou feto
Em tentativa de sucídio
Crises hipertensivas e dores no peito de aparecimento súbito
Quando houver acidentes, traumas com vítimas
Afogamento
Choque elétrico
Acidentes com produtos perigosos
Suspeita de infarto ou AVC (alteração súbita na fala, perda de força em um lado do corpo
Agressão por arma
Soterramento e desabamento
Crises Convulsivas
Transferência inter-hospitalar de doentes graves
Outras situações consideradas de urgência ou emergência, com risco de morte, sequela ou sofrimento intenso
NÃO CHAME O SAMU
Febre prolongada
Dores crônicas
Transporte de óbito
Dor de dente
Transferência sem regulação médica prévia
Trocas de sonda
Corte com pouco sangramento
Entorses
Cólicas renais
Todas as demais situações nas quais não se caracterize urgência ou emergência médica