Na abertura do Enepe disse que são enormes os desafios da educação, que vão da pré-escola ao ensino superior
Conferência vista em telão no Teatro César Cava (Foto: Júlia Aglio)
Em consonância com os temas dos grandes debates internacionais e dos quais tem participado, a presidente do Conselho Nacional da Educação (CNE) Maria Helena de Castro Guimarães afirma que o Brasil está vivendo um cenário disruptivo da educação. Sua fala na abertura do 27º Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (Enepe) partiu do entendimento da educação como política pública sistêmica, para afirmar que os desafios são enormes e que vão da pré-escola ao ensino superior. O evento realizado pela Unoeste foi aberto na noite de segunda-feira (17) e prossegue durante a semana, até sexta-feira (21) com o tema Ciência, Consciência e Humanização.
O Enepe 2022 tem mais de 2,9 mil inscritos, dos quais 1,3 mil com apresentações de trabalhos científicos; representantes de 168 instituições de 15 estados brasileiros e do Distrito Federal. Sua realização faz parte das comemorações dos 50 anos da Unoeste, com o histórico de formação de mais de 120 mil profissionais espalhados pelo território nacional e no exterior, conforme pontuou o pró-reitor acadêmico Dr. José Eduardo Creste ao fazer o pronunciamento de boas vindas em nome da reitora Ana Cristina de Oliveira Lima. Saudou a conferencista enaltecendo a sua contribuição para a educação brasileira.
Cenário e Mundo Vuca
O pró-reitor de pesquisa, pós-graduação e extensão Dr. Adilson Eduardo Guelfi falou da satisfação em receber a socióloga Maria Helena na Unoeste, a 2ª Melhor Universidade Particular do Estado de São Paulo, em avaliação do Ministério da Educação. Sobre o tema Ciência, Consciência e Humanização, disse ser bastante pertinente e que foi escolhido pela comunidade acadêmica da Unoeste envolvida na realização do Enepe, considerando a pandemia do coronavírus e seu impacto mundial em todos os setores, em especial o da educação superior no âmbito do tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão.
A conferência foi iniciada citando a presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Dra. Helena Nader, que tem o entendimento de ser necessária uma revolução na educação que começa na pré-escola e vai até a pós-graduação; diante da precisão de recuperar o pensar crítico e incentivar as crianças a questionarem desde uma idade muito jovem. Mediante esse olhar, Maria Helena abriu um leque de informações centradas no cenário desruptivo, relacionado ao Mundo Vuca, sigla de Volatility (volatilidade), Uncertainty (incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (ambiguidade).
Aprendizado ao longo da vida
É diante desse mundo que se faz necessário manter a discussão sobre as habilidades e competências aplicadas nos processos de ensino e de aprendizagem, considerando o “continuum formativo”, que é o aprendizado ao longo da vida para o desenvolvimento da pessoa. A conferencista trouxe á luz o Fórum Mundial da Educação de 2015, realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e que levou mais de 130 ministros dessa área à Coreia do Sul, onde também esteve. O que foi debatido naquela ocasião entrou para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a chamada agenda 2030.
O direito à educação equitativa e inclusiva de qualidade, a educação ao longo da vida para o desenvolvimento pleno das pessoas, a inovação, as novas tecnologias e novas demandas do mundo do trabalho permeiam as discussões e os desafios da educação básica e do ensino superior. Nesse contexto, conforme Maria Helena, a pandemia do coronavírus, apesar de todos os transtornos causados, provocou a necessidade de aceleração das mudanças no campo educacional, especialmente a de lidar com as tecnologias. Nesse mesmo aspecto, fez a observação de que não se pode separar a educação básica da superior, por se tratar de um processo sistêmico.
Habilidades socioemocionais
Então, falou de educação integral e das dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para defender mudanças profundas na relação aluno e professor, nos processos de ensino e de aprendizagem, na difusão e produção de conhecimentos, no desenvolvimento de competências e habilidades, no estímulo às atitudes de valores, visando a formação de sujeitos autônomos para lidar com as mais diferentes tensões no mundo, pelos mais diferentes problemas e os processos políticos. Essa relação contextual faz parte dos desafios do ensino superior em olhar para o mundo e para as mudanças do trabalho.
Um olhar especial na perspectiva do ser humano; pois conforme disse a conferencista, a grande causa da perda do emprego tem relação ao fato do profissional não desenvolvido durante a formação as habilidades socioemocionais. Associado a esse fator, existe a gravidade da desistência, que às vezes pode resultar em troca de curso, e do abandono escolar no ensino médio e no ensino superior que afetam as instituições públicas e particulares. O que ocorre por desestímulo, falta de condições de arcar com os custos e a consequente falta de financiamento estudantil. Outro problema grave é o de que a maior taxa de abandono ocorre nos cursos de licenciaturas, destinados à formação de professores.
Mudanças curriculares
Ao pontuar que poderá ocorrer falta de professores em um futuro próximo, na medida em que forem se aposentando os profissionais que hoje têm idade média variando de 35 a 40 anos, ficou o entendimento de que quem se formar em cursos de licenciaturas encontrará vagas no mercado de trabalho. Ainda como parte dos desafios da educação superior, disse que os mecanismos de avaliação externa precisam se adequar às novas exigências centradas no processo disruptivo e que o ensino tem que fazer algo semelhante, diante da necessidade de mudanças curriculares para desenvolver novo modelo institucional, como o de trabalhar as disciplinas em bloco.
Para Maria Helena, o futuro da educação dependerá da combinação de tecnologias com as pedagogias inovadoras. A conferência foi encerrada com a seguinte frase do estatístico alemão e pesquisador no campo da educação, Andreas Schleicher: “É preciso entender a educação como uma atividade e não como um lugar”. Depois, respondeu algumas perguntas enviadas por mensagem e a feita presencialmente pela Dr. Danielle Aparecia do Nascimento dos Santos, coordenadora dos cursos de Pedagogia presencial e a distância, pesquisadora vinculada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação da Unoeste, que oferece mestrado e doutorado.
Currículo internacional
A conferência seria presencial, mas por causa do cancelamento de voo de Campinas para Presidente Prudente, houve a decisão dos organizadores que fosse remotamente, com o sistema de transmissão operacionalizado no Teatro César Cava, no campus I da Unoeste em Presidente Prudente, onde teve presença de público. A maioria acompanhou remotamente nos campi de Prudente, Jaú e Guarujá e por todo Brasil. Possuidora de vasto currículo e com sua vida acadêmica na Unicamp, Maria Helena é prudentina e sua conferência foi prestigiada por sua prima Ligia Guimarães Tiezzi e contemporâneo em Prudente, Antônio de Figueiredo Feitosa, acompanhado de Maria Negri Fernandes.
Maria Helena é socióloga e mestre em Ciência Política pela Unicamp, da qual é professora aposentada e onde foi diretora adjunta do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp). Preside o CNE desde 2018. Como secretária executiva do Ministério da Educação (2016-2018) foi responsável pela coordenação do Comitê Gestor da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Período em que atuou como vice-presidente do Conselho de Governança do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Também atuou como membro do Conselho Direito da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); dentre outros feitos.
Assista a conferencia de Abertura do 27º Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão neste link.