Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

Mesmo com uma desaceleração da economia mundial – o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu, na semana passada, a projeção para o crescimento do PIB mundial este ano de 4,2% para 3,6% –, a inflação continua embicando para cima. Nos Estados Unidos a inflação dos últimos doze meses, encerrados em março, chegou a 8,5%, a maior taxa desde dezembro de 1981. Na zona do euro e na Inglaterra, a inflação também segue muito pressionada. Além de alimentos, os preços dos combustíveis estão subindo forte e consistentemente. Em particular, na área do euro, o índice de preços ao consumidor passou de 5,9% para 7,5%, no acumulado de 12 meses, e a alta dos preços de energia saltou de 32,0% para 44,7% em março, em relação ao mês anterior.

No Brasil, como escrevi no Em Foco A dura vida de L..., a difusão dos preços tem aumentado. Segundo o IBGE, de 378 produtos coletados, nada menos do que 77,51% estavam em alta. E os núcleos de inflação acompanhados pelo Banco Central estão fortemente pressionados, passado de uma taxa média de 8,40% em fevereiro para 9,01% em março quando a inflação foi 1,62%, acima da mediana das expectativas de mercado, de 1,35%. O IPCA acumula alta de 11,30% em 12 meses, ante os 10,5% em fevereiro.

O Boletim Macro FGV IBRE que está em circulação, aponta os principais fatores que mantém a inflação em patamares elevados no mundo e aqui, e as razões que estão levando a revisões para baixo do crescimento econômico mundial.

• Ainda não há perspectiva favorável para o recuo nos preços das commodities. Riscos geopolíticos contribuem para esse cenário e, pelo menos por enquanto, não há perspectiva de cessar-fogo na guerra da Rússia com a Ucrânia. Com relação ao petróleo, mesmo o governo dos EUA anunciando a liberação de até 180 milhões de barris da reserva estratégica de óleo nos próximos seis meses, os preços do barril se mantêm voláteis e elevados. O desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado internacional continua e deve se agravar a curto prazo, conforme as sanções apertam e o acesso do petróleo russo ao mercado global fica mais difícil.

• A previsão de crescimento mundial caiu em especial na área do euro, de 3,9% para 2,8%, mas também para os EUA – de 4,0% para 3,7% – o e para a China – de 4,8% para 4,4% -- houve queda nas taxas projetadas. O Brasil foi uma rara exceção, com o Fundo aumentando, de 0,3% para 0,8%, o crescimento projetado para este ano. Também para 2023, o FMI cortou a projeção de crescimento global, neste caso em 0,2 pp.

• Além do conflito entre Rússia e Ucrânia, a necessidade de aperto monetário para combater a elevada inflação global é um dos motivos apontados para essa revisão, para baixo, das projeções de crescimento. De fato, a inflação não tem dado trégua, lá fora e aqui.

• A expectativa é que a inflação global siga alta, demandando um aperto monetário que na maioria dos países, na prática, por ora, segue marginal ou apenas na retórica. Nos EUA, como a atividade permanece muito robusta, com forte pressão salarial, a taxa de juros deve subir mais rapidamente e ficar acima do nível neutro em 2023. Se subirá o suficiente para controlar o processo inflacionário e trazer a inflação de volta à meta é cedo para dizer.

• Na área do euro, a guerra tem tido efeitos mais negativos sobre a atividade. Mesmo assim, é esperado o encerramento da compra de ativos pelo BCE (Banco Central Europeu) no segundo semestre, e um possível aumento da taxa de juros, que segue negativa, no final do ano.

• Diante desse cenário, como prevê o Fundo, a atividade econômica mundial entra em nova fase, caracterizada por desaceleração mais intensa, em que pese o efeito expansionista da retração da pandemia. Além da guerra, o surto de Ômicron na China também contribui para esse processo. É o que mostram os Barômetros Econômicos Globais Coincidentes e Antecedentes do FGV IBRE, que registraram quedas mais intensas em abril. O Barômetro coincidente situa-se agora abaixo do nível médio histórico de 100 pontos, enquanto o indicador antecedente sinaliza a perspectiva de uma maior desaceleração do crescimento mundial do que a prevista anteriormente.

Barômetros globais


Fontes: FGV IBRE. KOF, ETH Zurich.

Agradeço a Anna Carolina Lemos Gouveia, pesquisadora do FGV IBRE, os dados sobre os Barômetros Globais.

Ver a íntegra do Boletim Macro FGV IBRE