"A única saída para o desenvolvimento é agregar valor aos produtos e ter uma indústria forte, através de tecnologia e esforço de gestão" diz o gerente de Inovação e de Tecnologia do SENAI-SP, Osvaldo Lahoz Maia. Ele enfatiza que o caminho para a Indústria 4.0 deve abranger desde as grandes empresas às pequenas que, muitas vezes, são suas fornecedoras. "É preciso facilitar o acesso à tecnologia, ao capital humano, aos bons modelos de negócios e às plataformas. As empresas que não aderirem à Transformação Digital podem ter um declínio de 20% mediante às que se modernizarem no mercado", afirma Maia.

Para desmitificar o conceito Indústria 4.0 e mostrar o quanto ela é acessível o SENAI-SP criou a Jornada SENAI para Transformação Digital, uma metodologia que propõe um plano de evolução tecnológica e produtiva nas empresas, de diferentes portes e níveis de maturidade tecnológica, por meio de oito passos: Entendimento; Diagnóstico; Otimização de Processos (Manufatura Enxuta e Eficiência Energética); Mapeamento; Automação; Digitalização; Integração e Indústria Inteligente.

O primeiro passo, Entendimento e Diagnóstico, aborda a cultura da Indústria 4.0 e a mudança de mindset de colaboradores e corpo gestor, por meio, por exemplo, de treinamentos e cursos remotos.

Após a fase de Entendimento, o Diagnóstico, elaborado por profissionais do SENAI-SP, determina qual o melhor serviço se adequa à necessidade da empresa, de acordo com seus problemas e prováveis soluções. Nesta etapa, os profissionais também estão de olho em editais e programas que possam financiar mudanças nas empresas de pequeno e médio porte que muitas vezes não possuem grande aporte financeiro. Todo o suporte - da inscrição ao desenvolvimento do projeto - é acompanhado pela equipe do SENAI-SP.

A pesquisa Small Business Digitalization and COVID-19 Survey, divulgada pela CISCO e International Data Corporation (IDC), mostrou que, no Brasil, com a Transformação Digital, a economia pode crescer em até US﹩ 9 bilhões até 2024. Entre os maiores desafios percebidos no país para tal transformação, estão a resistência à mudança cultural (18%), falta de conhecimento nos profissionais (17%) e às lacunas tecnológicas (12%).

Editais e programas de apoio

Entre os programas que andam de mãos dadas à Jornada SENAI para Transformação Digital estão: Brasil Mais, em parceria com o Governo Federal, que oferece soluções de baixo custo e rápida implementação para melhorar a gestão e aumentar a produtividade, para empresas que possuem de 11 a 499 funcionários; o Sebraetec, programa de consultorias especializadas e customizadas para implementar soluções de Design, Produtividade, Qualidade, Inovação, Sustentabilidade, Tecnologia da Informação e Comunicação; o Indústria Paulista Mais Competitiva (IP+C), que proporciona assessoria tecnológica para ganho de produtividade por meio de Soluções de Lean Manufacturing e Eficiência Energética; e a Plataforma Inovação para a Indústria, que financia o desenvolvimento de produtos e processos inovadores, com o objetivo de aumentar a produtividade e a competitividade das empresas industriais, inclusive startups.

Os editais e programas são aplicadas ao longo das oito etapas da Jornada e adequados a cada fase, como por exemplo o Sebraetec na Otimização de Processos e a Plataforma Inovação para Indústria nas camadas de Digitalização e Integração.

Na etapa de Otimização de Processos, são construídas soluções a baixo custo nos campos da Manufatura Enxuta (Lean Manufacturing) e de Eficiência Energética - necessidades muito latentes na indústria brasileira - que promovem, a curto prazo, um resultado significativo.

Após o Entendimento, Diagnóstico e Otimização de Processos, o Mapeamento será feito. Nele, se definirá exatamente o ponto no qual a empresa está atualmente e em qual estágio ela quer chegar na Transformação Digital, encaminhando-se para as próximas ações de Automação e de Digitalização. Em São Bernardo do Campo, a empresa de usinagem automotiva SELCO se encontra exatamente neste ponto da Jornada, já colhendo os frutos da Digitalização.

Aumento de 39% em produtividade - SELCO

Algumas ações de Otimização da empresa de usinagem automotiva SELCO foram: desativação de duas etapas de processamento pela adoção de um novo conceito de fixação de peça e nova ferramenta de corte na etapa de torneamento, que possibilitou eliminar defeitos causados nesses processos (redução do índice de refugo de 0,5%); e a redução de custo de mão de obra na linha em 20%, além da diminuição de deslocamentos e movimentação em 7km por turno.

Já quanto às ferramentas de Digitalização aplicadas, uma delas foi o sistema MES, que ajudou a integrar as operações administrativas e produtivas de forma sincronizada para ações de melhoria contínua com base na coleta e visualização de dados em tempo real, culminando em um incremento de 23,30% no índice de OEE (usado para medir a eficiência e a produtividade nas indústrias). Tais melhorias permitiram a empresa um aumento de 39,44% de produtividade na linha.

Agora, a empresa segue na transformação da linha de produção de atuadores de comando de válvulas automotivos. O objetivo é viabilizar o aumento da capacidade produtiva em até 50%.

De 18 a 28 peças produzidas por horas - ENGRECON

Em Santana de Parnaíba, na também fabricante de autopeças ENGRECON, um dos avanços foi na célula da EG 2322, uma peça com baixa taxa de produção - até 18 peças por hora - devido ao alto tempo de ciclo do centro de usinagem. O estudo de tempos e movimentos, apoiado pela simulação computacional, gerou indicadores que mostraram a necessidade de um redimensionamento para melhor aproveitamento do tempo do colaborador e o potencial de se reduzir o número de operadores na célula de 4 para 3 e, ainda assim, aumentar a capacidade produtiva para até 28 peças por hora. Além disso, o método de aquisição de dados do processo era manual, o qual ocasionava a parada de pelo menos um dos funcionários. Mediante ao exposto, foi implementado um sistema de monitoramento de OEE digital que automatizou tal aquisição. Assim, as aplicações de Lean Manufacturing e Automatização trouxeram ganho de 33,33% de produtividade.

O Projeto ENGRECON 4.0 segue para transformar os processos de fabricação de engrenagens automotivas. O objetivo é tornar os processos mais eficientes e criar conectividade para utilização dos dados da fábrica para gestão em tempo real e automatizando processos.

Sensores evitam erro em solda - INDAB

Outro caso de fabricante de autopeças, a INDAB, na zona leste da capital paulista, utilizou as ferramentas da Manufatura Enxuta e Digitalização para dar solução à operação de prensas nas quais ocorriam desperdício por retrabalho para remover rebarbas.

Além disso, uma solução em Digitalização simulou e instalou sensores para controle das máquinas de solda, evitando assim que pontos de solda fossem executados fora da posição correta. O sensor localizado no dispositivo das máquinas garante o correto posicionamento do componente e o sensor na caneta do eletrodo assegura que a solda seja de fato aplicada. Houve aumento da produtividade no fluxo analisado de 42,74%. Já a lucratividade totalizou ganhos de R﹩7.377,05 por mês.

Agora, a empresa segue para a digitalização de toda a cadeia de informação do processo produtivo e implantação de rastreamento de ativos.

Todas as empresas citadas acima tiveram suporte de programas financeiros e, agora, se encontram nas duas últimas etapas da Jornada: Integração e Indústria Inteligente. A Integração permite com que as informações de todos os processos estejam disponíveis de forma descentralizada, através de Cyber Segurança e IoT (Internet das Coisas), por exemplo. Já a Indústria Inteligente consiste no mais alto nível tecnológico de mercado, alcançado por meio do uso de inteligência artificial em ferramentas como o machine learning, big data e analytics. Tecnologias que antes eram distantes de empresas de pequeno e médio porte e agora já despontam em seus planejamentos e resultados de forma que a indústria 4.0 complete sua transformação de ponta a ponta.