Fazia mais de dois anos que o motorista de táxi Mario Augusto Donnarumma Arthur, 56 anos, não passava em uma consulta com um dentista. A espera terminou na tarde desta terça-feira (22), quando ele foi um dos atendidos pela equipe de Saúde Bucal do Consultório na Rua. Ele estava com dificuldades de mastigação, e soube do serviço por outros frequentadores do Restaurante Bom Prato Mercado.
Donnarumma está desempregado depois de atuar por um tempo como taxista e motorista de aplicativo. Chegou a dormir na rua até recentemente, mas conseguiu alugar um quarto com o dinheiro que recebe de uns "bicos" que faz. Ele não escondia a satisfação de ter conseguido atendimento odontológico. "Da última vez que fui ver um tratamento, o custo era superior a R$ 5 mil".
O atendimento a Donnarumma e a outras pessoas em situação de rua foi possível graças ao empenho de duas dentistas residentes: Lílian de Oliveira Silveira e Juliana Oliveira Silva Chagas. Durante a prática na residência odontológica, elas sentiram a necessidade de atender esse público até que conseguiram viabilizar o projeto com o dentista Ricardo Antonio Nunes Neto, que é tutor da área de Odontologia do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Primária à Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde. Esse programa de residência conta com estágios de várias profissões no programa Consultório na Rua.
COMO FUNCIONA
Nunes Neto passou a ser o articulador do projeto, que começou em dezembro de 2020. Desde então, uma viatura equipada para atendimento odontológico estaciona nas tardes de terça-feira, das 14h30 às 18h, em um ponto da Praça Iguatemi Martins, no Mercado, para atendimento gratuito ao público.
Segundo ele explica, o atendimento sempre é feito por duplas de profissionais e leva em média uma hora, já incluindo o tempo de higienização completa dos equipamentos. São feitos, em média, 12 atendimentos mensais. Os casos mais simples, detalha Nunes Neto, são resolvidos na própria viatura e, os mais complexos, encaminhados para o Centro de Especialidades Odontológicas.
"O equipamento é bem completo, mas quando precisamos, pedimos radiografias e exames complementares no Centro de Especialidades Odontológicas", comenta Lílian de Oliveira. Segundo ela, boa parte dos casos é referente a trauma dentário, dor de dente e extração.
ESPERANDO A PRÓTESE
Quem também passou pela equipe foi Evandro Loureiro de Oliveira, 70. Na terceira consulta com as dentistas do programa, ele se mostrava satisfeito com o serviço prestado. Juliana Oliveira explicou que o paciente seria encaminhado para extração de dentes e, posteriormente, para colocar prótese. "Trabalhar nesse serviço tem sido uma experiência enriquecedora", contou Juliana.
ACESSO A TODOS
Para o secretário de Saúde de Santos, Adriano Catapreta, "esse serviço odontológico feito diretamente nas ruas muito nos orgulha. Partimos do princípio que o SUS é universal e, cabe a nós, da secretaria, dar acesso a todos os serviços aos nossos munícipes, independentemente da situação em que eles se encontram".