Rodrigo Augusto Prando, Paulo Dutra Costantin e Deysi Cioccari


Faleceu neste domingo (16/05), Bruno Covas, Prefeito de São Paulo, aos 41 anos. Novo, muito novo. Registre-se, aqui, o impacto para sua família, seus pais e, especialmente, ao jovem Tomás, seu filho, que esteve ao lado do pai durante a luta contra a doença.

Há, contudo, um impacto mais amplo, para a vida política nacional. Bruno foi um democrata, afeito ao diálogo e à negociação política. De sobrenome marcante, Covas, de seu saudoso avô, Mario Covas, desde jovem esteve, no bojo da família, envolvido com as questões políticas e de governo. Morou, por um tempo, com Mario Covas no Palácio dos Bandeirantes: uma festa, por certo, para uma criança morar num palácio! Embora o peso do sobrenome estivesse presente, Bruno trilhou seu caminho, sem afobação, sem queimar etapas. Filiado ao PSDB, Partido da Social Democracia Brasileira, teve, em primeiro lugar, vida partidária, tendo sido Presidente da Juventude do PSDB. Candidatou-se - e foi eleito - deputado estadual e deputado federal; foi Secretário do Meio Ambiente de Geraldo Alckmin; foi Vice-Prefeito de João Doria; tornou-se Prefeito de São Paulo com a saída de Doria para ser candidato e Governador de São Paulo; e, por fim, candidatou-se à reeleição e foi, no segundo turno, de 2020, eleito prefeito disputando contra Guilherme Boulos, do PSOL. Exercer o Poder Executivo (prefeito, governador e presidente) após ter sido do Poder Legislativo (vereador, deputado estadual e deputado federal) trouxe um ganho substancial para a construção da liderança, bem como o conhecimento necessário para dialogar com os demais atores políticos e todas as forças sociais.

Bruno não herdou o temperamento mais combativo de Mário Covas; ele foi, quase sempre, definido como educado, elegante e afável até com os adversários (fato comprovado ao ligar para Boulos, no ano passado, para se desculpar por uma atitude de um membro de seu partido durante a disputa municipal). Em tempos de política feita com ódio, fake news e ataques de toda a sorte, Bruno manteve-se dentro dos limites de sua personalidade cordata. Governou a maior cidade do país no centro de uma pandemia e, nela, teve acertos e erros. Quando errou, ouviu, ponderou e recuou. Em plenas restrições da circulação objetivando diminuir a contaminação pela Covid, Bruno foi, com seu filho, ao estádio assistir a final da Copa Libertadores. Tal fato gerou ataques inenarráveis pelo conteúdo de ódio, mas ele os enfrentou e sabia que, ali, era um momento único para ser vivenciado com seu filho. Não haveria outra possibilidade. Em tempos idos, não tão distantes, Bruno foi considerado baladeiro e durante uma grande chuva que castigou a cidade, estava em viagem pessoal, o que lhe rendeu críticas (inclusive nossas). Mas, rapidamente aprumou-se e entendeu que governar é abdicar de desejos individuais, de ter resiliência e humildade de recuar diante do erro. Com câncer e com Covid, mudou-se para a Prefeitura e tornou-se prefeito full time.

Bruno Covas deixa seu legado, da Política com P maiúsculo. Daqueles que vivem para a Política e não que vivem da política; dos homens que servem ao público e não dos que se servem do que é público. Foi político apaixonado pela atividade. Tinha o que Max Weber chamava de "vocação para a Política". Sentirão sua falta no seio familiar, no PSDB, na prefeitura e no Brasil. Que seu exemplo frutifique neste solo árido em que nos encontramos. A vida tem seu termo. A esperança é imorredoura.

Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.

Paulo Dutra Costantin é doutor economia e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Deysi Cioccari é cientista política e jornalista.