A CUFA Baixada Santista atua para levar comida e oportunidades às favelas da região


A necessidade mora em um cômodo no bairro Jóquei Clube, em São Vicente. E, neste caso, ela tem nome e sobrenome: Karina Lima, 34 anos, quatro filhos com idades entre 2 e 12 anos.

Em um dos muitos dias de escassez de comida, dividiram as sobras de um pão embolorado. "Tirei os pedaços do bolor e dividi o pão. Eles foram parar no hospital, mas o que eu poderia ter feito?", questiona.

Na semana passada o IBGE divulgou que o Brasil tem 14,4 milhões de desempregados, o maior número desde 2012 quando a pesquisa foi iniciada. Karina faz parte dessa, e de outra estatística igualmente perversa: a dos brasileiros que empobreceram

Até o ano passado, morava no interior de São Paulo. Com a pandemia, o ex-marido ficou desempregado e deixou de pagar pensão. Karina teve de voltar para o cômodo que era do pai, em São Vicente. Onde tem passado por apuros. "Estou com 12 contas atrasadas, incluindo água e luz. De vez em quando, consigo fazer uma faxina, mas, como tenho quatro crianças, até isso é difícil para mim".

Realidade
Ainda não há estudos oficiais que confirmem o movimento de migração de pessoas para áreas mais periféricas das cidades. No entanto, para Deraldo Silva, coordenador da CUFA Baixada Santista, a realidade é muito evidente nas favelas da Baixada Santista.

“Famílias que tinham um lava rápido, uma lanchonete na garagem de casa, perderam o poder econômico e estão voltando para esses territórios de maior vulnerabilidade social, onde o aluguel é menor e, às vezes, nem existe”, afirma Deraldo, ressaltando que essa é uma realidade geral nas cidades.

Para o economista, com mestrado em políticas sociais, Fernando  Pinheiro  esse empobrecimento da população traz sérios impactos, como por exemplo maior dificuldade na hora de se candidatar a uma vaga de trabalho. "Você muda o eixo do deslocamento. Muitas pessoas acabam não conseguindo determinado trabalho em razão dos custos com transporte".

Ele também avalia que pode haver uma sobrecarga no setor público em bairros mais periféricos. "Isso deve ocorrer com os serviços de saúde e educação, por exemplo. Crianças e jovens em idade escolar  terão de ser matriculados na região onde moram. Tem estrutura para isso?". 

O especialista chama a atenção ainda para a probabilidade do aumento no contágio do coronavírus, já que um número maior de pessoas, estaria morando em um lugar menor .      

Desafios
O trabalho da CUFA é acolher e ajudar. "Estamos em um cenário caótico, temos que alcançar essas famílias com cestas, cuidar da melhora da saúde física e mental delas", conclui Deraldo.

Karina, por exemplo, ganhou um vale de R$ 120 da CUFA ,  o dinheiro deu a ela um fio de esperança. “Passei no mercado comprei uns ingredientes, massa, queijo, presunto e vou fazer pastel pra vender na vizinhança.”

A CUFA Baixada Santista tem recebido doações pelo link