Lucas Suman, médico cardiologista
Depois de duas
amargas semanas com comércios fechados, restrição de circulação entre as
cidades e número crescente de mortes na segunda grande onda de Covid-19, as
cidades da Baixada Santista começam a promover uma reabertura gradual, nos
moldes da chamada fase de transição da quarentena, definida pelo Governo do
Estado.
É inegável que o lockdown produziu efeitos positivos, principalmente no controle da
ocupação dos leitos reservados à covid-19. Porém, é igualmente fato que
submeteu a população a uma duríssima prova de resistência, à qual parte dos
comércio sucumbiu, suprimindo postos de trabalho e levando um grande número de
famílias a depender única e exclusivamente da solidariedade alheia para colocar
comida na mesa.
O mesmo pode-se dizer do fechamento total das
igrejas e templos religiosos, que foram proibidos de realizar seus cultos,
missas e práticas espirituais justamente num momento agudo da pandemia, no qual
o consolo da alma passa a ser essencial às pessoas tanto quanto o tratamento do
corpo físico.
Foi uma importante lição. E como ensinam os
mestres de História nas salas de aula, é preciso saber fazer a leitura dos
fatos para não repetir os mesmos erros. Com o fim do lockdown e a reabertura escalonada das atividades em geral já
regulamentada pela maioria dos municípios, a cautela é a palavra de ordem.
A sociedade civil organizada já conhece as
agruras de uma fase mais restritiva. E só depende dela própria evitar uma
reedição, se autoprotegendo, zelando pelo próximo e evitando os excessos. Se
cada um fizer sua parte, não será preciso enfrentar os efeitos das decisões
drásticas emergenciais dos governantes.
Levantamento de março feito pela Associação de
Medicina Intensiva Brasileira (Amib) mostrou que 52% das internações em
unidades de terapia intensiva foram de pessoas com até 40 anos. Isso significa
dizer, segundo a entidade, que não há mais que se falar em grupo de risco, mas,
sim, em comportamento de risco.
Em outras palavras, práticas como o bom e velho happy hour no barzinho do momento passam
a ser tão ou mais significativas no contexto do controle da curva epidêmica que
as comorbidades dos idosos, por exemplo.
Diante disso, explica-se o fato de os
governantes estarem antecipando a imunização de grupos profissionais altamente
expostos a riscos diariamente, como os da segurança pública e do magistério,
entre outros. No atual momento pandêmico, é uma decisão coerente levar a
imunização a faixas etárias mais jovens, desde que não interfira, também, na
vacinação dos idosos, que nas últimas semanas desacelerou de maneira altamente
significativa no Brasil, por falta de doses. Esse é o maior problema que
enfrentamos hoje no enfrentamento à pandemia, e que precisa de correção
urgentemente.
Por ora, não há outro remédio para manter longe
o fantasma de um novo lockdown. Dos
governantes, espera-se a busca incessante por mais insumos médicos e, acima de
tudo, vacinas. Da sociedade civil, nada
mais que organização, consciência e espírito de coletividade. Afinal,
estamos todos no mesmo barco.