Como não há vacinas suficientes contra a covid-19 para os 160 milhões de brasileiros acima de 18 anos, o ‘lockdown’ é necessário para conter a proliferação do novo coronavírus.

A opinião é do infectologista Marcos Montani Caseiro, que participou da ‘live’ do sindicato dos servidores estatutários de Santos (Sindest), na noite de terça-feira (30).

Ele falou sobre a importância do isolamento e lamentou que a medida, em vigor há uma semana, com previsão de término em 4 de abril, tenha sensibilizado apenas 50% dos moradores de Santos.

O médico observou que o comércio fechou, com prejuízos à economia, mas que, infelizmente, apenas metade das pessoas deixou de circular nas cidades que decretaram o ‘lockdown’.

Segundo ele, nas duas primeiras semanas de abril, o número de contaminados e mortos pela doença será maior do que agora. Por isso, ele defende o prolongamento da medida além do dia 4.

“Todos os hospitais estão lotados. Nos particulares, há filas para pacientes serem intubados. Só o fato do sujeito ser internado, ele já tem 36% de chances de morrer”, disse Caseiro.

 

 

Profissionais e

heróis da história

 

E continuou: “Se for para a ‘uti’ (unidade de tratamento intensivo), a probabilidade de óbito é de 60%. E, se for intubado, o percentual sobe para 80%.”. Segundo ele, não adianta só aumentar o número de ‘utis’.

“Onde você vai conseguir o número suficiente de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e demais profissionais?”, questionou o infectologista, lembrando que as circunstâncias exigem treinamento.

“É um paciente difícil, pronado (que fica na posição de bruços). E quem segura a bronca são os técnicos de enfermagem, os enfermeiros, que ficam ali o tempo todo com os pacientes”.

“Vira pra cá, vira pra lá, limpa coco, limpa xixi. Esses são os verdadeiros heróis dessa história. Normalmente, na maioria dos casos, são servidores públicos do SUS” (sistema único de saúde).

Segundo ele, 94% das mortes por covid-19 em Santos são de pessoas com mais de 55 anos de idade com pelo menos uma comorbidade, como diabetes, para os quais há uma abordagem precoce.

“Não existe tratamento precoce, mas abordagem, sim, com anticoagulantes e corticoides, eventualmente, para esse grupo de risco”, disse Caseiro, condenando, porém, o que chamou de médicos ignorantes.

 

 

Charlatões

vagabundos

 

“Há uma epidemia tão grave no Brasil quando a pandemia da covid, que é a da ignorância. Tem médico que prescreve cloroquina e ivermectina. Isso é uma vergonha”, desabafou.

Segundo Caseiro, 80% dos pacientes intubados vinham tomando esses dois medicamentos, que não servem para tratamento dessa doença, conforme mostram todos os estudos.

Um dos grandes problemas da covid-19 é que ela “propicia a prática da medicina por um bando de charlatões vagabundos”. Ele explicou que apenas 20% dos que pegam a doença têm complicações graves.

Para o médico, a prioridade é a vacinação. “Só a vacina vai nos tirar dessa situação o mais rápido possível. Mas, mesmo vacinados, teremos que nos adaptar à nova realidade das máscaras e distanciamento”.

“Não é hora para fazer festas, aglomerações, ir a ‘shoppings’ e coisas assim. É preciso ter um pouco de calma porque sairemos dessa situação conforme as vacinas avançarem”.

 

 

Bando de

incompetentes

 

Segundo ele, o SUS tem 30 mil salas de vacinação no Brasil e capacidade para vacinar 80 milhões de pessoas em dois meses. “Mesmo com vacinação, vem aí o inverno, que exigirá o distanciamento físico”.

Para Caseiro, o responsável pela proporção que a pandemia ganhou no Brasil é o presidente Jair Bolsonaro. “Eu não tenho dúvida disso e me recuso a falar o nome desse cara”.

“Ele é quem escolhe os ministros e escolheu um bando de incompetentes. Deixou de comprar vacinas e não estaríamos nesta situação se ele tivesse feito o que tinha de fazer”.

O médico apontou 3780 óbitos nas últimas 24 horas no Brasil, ponderou que o quadro é “assustador” e lamentou a “normalização da morte. Não podemos deixar de nos indignar”.

O presidente do Sindest, Fábio Marcelo Pimentel, concordou com Caseiro sobre o responsável pela pandemia no Brasil: “É Jair Bolsonaro. Se não sair por ‘impeachment’, tem que sair na eleição de 2022”.