Do G1 Santos
O número de pacientes internados com sintomas de Covid-19 em Santos, no litoral de São Paulo, cresceu cerca de 86% desde o dia em que os hospitais registraram a menor quantidade de internações, há menos de dois meses. Para especialistas, os dados acendem um sinal amarelo e mostram um novo avanço da doença na região.
Dados oficiais da Prefeitura de Santos apontam que a menor taxa de ocupação dos leitos de Covid-19 foi registrada no dia 26 de setembro, quando havia 140 pacientes internados nos 610 leitos disponíveis, representando uma taxa de ocupação geral de 23%. Esses números representam leitos de clínica médica e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nos hospitais públicos e particulares da cidade.
Desse total, havia 65 pacientes internados nos 249 leitos disponíveis de UTI, destinados aos casos mais graves. Esse número corresponde a uma taxa de ocupação de 26%. Foram considerados os leitos de UTI das redes pública e privada.
Desde então, o número de pacientes internados com sintomas de Covid-19 vem crescendo gradativamente. Segundo o último boletim divulgado pela prefeitura, nesta quinta-feira (12), havia 261 pessoas internadas nos 641 leitos, o que representa uma taxa de ocupação de 41%. Destes pacientes, 116 estavam internados nos 266 leitos de UTI disponíveis, representando uma taxa de ocupação de 44%.
De acordo com a administração municipal, a oferta de leitos para pacientes com sintomas de Covid-19 muda diariamente devido aos hospitais particulares. Na rede pública, isso acontece apenas quando há desativações dos leitos. A última vez que houve desativação foi em 23 de setembro, quando os 22 leitos do Hospital de Pequeno Porte Central voltaram a atender outros pacientes.
Dessa forma, comparando os 140 pacientes internados no dia 26 de setembro, data com menor número de internações, com as 261 pessoas internadas nesta quinta, houve um aumento de 121 internações, o que representa um crescimento de 86,4%. Se considerarmos apenas a quantidade de leitos de UTI ocupados, houve um aumento de 65 para 116 pacientes internados (78,5%).
Hospital dos Estivadores, em Santos, abriu dois centros cirúrgicos e mais 25 leitos — Foto: Isabela Carrari/Prefeitura de Santos
Maior ocupação
No dia 17 de maio, Santos atingiu a maior taxa de ocupação durante todo o período de pandemia. Na data, havia 735 leitos de Covid-19 disponíveis na rede local, com 381 pacientes internados, representando uma ocupação hospitalar de 52%. No mesmo dia, foi registrado recorde de pessoas internadas em UTI. A ocupação dos 206 leitos chegou a 80%, tanto na rede pública como na particular.
Até o momento, os leitos hospitalares geridos pela prefeitura sofreram três desativações, graças à redução das internações desde o pico da doença. No dia 17 de agosto, ocorreu o fechamento do hospital de campanha da UPA Zona Leste, que contava com 46 leitos (26 de clínica médica e 20 de UTI). No dia 31 do mesmo mês, foi fechado o hospital de campanha da Aflip, que tinha 26 leitos de clínica médica. Em 23 de setembro, os 22 leitos do Hospital de Pequeno Porte Central foram desativados.
Para o enfrentamento da doença, a administração municipal chegou a realizar a abertura total de 449 leitos de Covid-19, sendo 300 de clínica médica e 149 de UTI, em unidades próprias e conveniadas sob gestão municipal. Atualmente, há 350 leitos públicos. Somando os hospitais privados, o maior número de leitos ofertados na rede hospitalar da cidade foi registrado no dia 27 de junho, quando chegou ao total de 904 (518 públicos e 386 privados).
Para infectologista, se a situação não melhorar, medidas de contenção terão que ser retomadas — Foto: Vanessa Rodrigues/Jornal A Tribuna
Sinal amarelo
O infectologista Marcos Caseiro garante que esses dados são muito alarmantes e acendem um sinal amarelo na cidade. De acordo com ele, desde o início da flexibilização, as pessoas retornaram à normalidade, coisa que não deveriam ter feito. Por isso, a doença voltou a avançar em Santos e, para o especialista, a tendência é que continue piorando.
"As UTIs particulares voltaram a reativar seus leitos e já estão cheias. Nos hospitais públicos, também houve um aumento, mas não com a mesma velocidade. Notamos que isso tem muito a ver com o grupo de idosos que estava cumprindo o distanciamento social e, com a abertura geral, se sentiu mais tranquilo para sair de casa".
O infectologista ainda explica que a maior exposição dos familiares mais jovens também prejudica o grupo de risco, pois eles acabam levando o vírus para dentro de suas casas. Segundo o médico, muitas pessoas ainda não entenderam a real gravidade da situação, principalmente por conta do descompasso nas falas dos governos municipal, estadual e Federal.
"Temos claros indícios de que o número de internações continuará aumentando nas próximas semanas se as pessoas não se responsabilizarem. É evidente que está todo mundo de saco cheio, mas, ainda não temos condições de voltar à normalidade. Se seguirmos nesse ritmo, teremos que retomar muitas medidas de contenção", finaliza.
A Secretaria Municipal de Saúde está em alerta com os novos números. Em razão disso, solicitou ao governo estadual o repasse de R$ 13,5 milhões, visando à manutenção do funcionamento do hospital de campanha Vitória até março de 2021. O município também solicitará ao Ministério da Saúde a liberação de recursos de custeio para 123 leitos de UTI de Covid-19, entre os hospitais Santa Casa, Beneficência, Vitória, Estivadores e Complexo da Zona Noroeste.
A Prefeitura de Santos pede que a população continue seguindo as boas práticas de higiene, como lavagem frequente das mãos e uso de álcool em gel, além de evitar aglomerações e utilizar máscaras de proteção constantemente.