Por G1 Santos


O Bitcoin é uma moeda digital, utilizada para comprar e vender produtos e serviços pela internet — Foto: Pixabay/Divulgação

O Bitcoin é uma moeda digital, utilizada para comprar e vender produtos e serviços pela internet — Foto: Pixabay/Divulgação

A empresa BWA Brasil, acusada de aplicar golpes envolvendo bitcoins, gerou um prejuízo de quase R$ 300 milhões após fechar suas portas sem ressarcir os investidores. Ao pedir a recuperação judicial, a empresa elaborou uma relação de 1.897 credores que perderam muito dinheiro após o investimento. Moradores da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, que também foram lesados, ficaram revoltados com o pedido de recuperação.

Segundo apurado pela reportagem, a empresa já teve um escritório em luxuoso edifício corporativo de Santos antes de ruir e deixar centenas de lesados. A segunda empresa que sofreu o maior prejuízo foi um posto de combustíveis de Santos, que investiu R$ 12,3 milhões na BWA. Já as pessoas físicas com maiores prejuízos foram dois moradores da Ponta da Praia, também em Santos, que aplicaram R$ 5 milhões e R$ 2,5 milhões.

A BWA Brasil é investigada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público (MP) por estelionato e lavagem de dinheiro por suposto golpe da pirâmide disfarçado de investimento em criptomoedas. A empresa nega as acusações e diz estar empenhada em ressarcir os clientes.

'Perdi tudo'

Em entrevista ao G1, uma vítima disse que fez contato com a empresa em junho de 2018. Após o fechamento, começou a acreditar que fazia parte de um golpe. Ele relata que queria investir para garantir uma segurança na aposentadoria e diz que os responsáveis pela empresa tinham uma rede de pessoas de confiança, que durante conversas com possíveis investidores tentavam conquistar a pessoa para que entrasse no esquema de investimento em bitcoins.

De acordo com o investidor, ele percebeu que havia algum problema quando tentou retirar o dinheiro, no fim de novembro de 2019, após mais de um ano vinculado à companhia. "Eles falavam que estavam com dificuldades para pagar, demorou, até que fecharam. Perdi tudo", explica.

G1 conversou com três moradores de Santos, e todos alegaram terem entrado no negócio por indicação de amigos. Os três tinham contato direto com os responsáveis pela empresa, e relatam que houve dificuldade ao tentar se comunicar com eles neste período. Dois deles procuraram a Justiça, e um deles afirmou que também vai procurar um advogado para pedir respostas pelo caso.

Bitcoin utiliza uma tecnologia muito segura e pode ser usada para comprar produtos e serviços reais — Foto: Pixabay/Divulgação

Bitcoin utiliza uma tecnologia muito segura e pode ser usada para comprar produtos e serviços reais — Foto: Pixabay/Divulgação

Processo

O advogado Jorge Calazans, de 45 anos, cuida do caso de cerca de 30 pessoas da Baixada Santista. Ele relata que, desde o pedido de recuperação judicial feito esta semana, houve revolta e dezenas de pessoas o procuraram para entrar com processo contra a empresa.

“O pedido de recuperação judicial tem a finalidade de você se estruturar, ou seja, suspende os pagamentos, e a empresa se reestrutura para voltar a pagar. É uma medida para evitar a falência”, explica o advogado.

Calazans explica que há registro de pessoas que começaram a investir na empresa desde 2017, e que ela foi fechada no fim de 2019, alegando não ter condições de pagar quem tinha investido. As denúncias surgiram neste período, quando o advogado começou a receber os casos e a Polícia Civil passou a investigar o que ocorria.

O defensor alega que a empresa atuava como um clube elitizado, já que o investimento mínimo era de R$ 30 mil. Ele explica que o serviço oferecido era de arbitragem de criptomoeda, que obtém lucro por meio das diferenças de valores oferecidas por uma mesma moeda. Ele explica que a empresa promovia um esquema em que se comprava por um valor mais baixo e vendia por um maior, alegando que pagava o rendimento. Por isso, era oferecido um valor de rendimento fixo aos investidores.

BWA

O advogado José Luis Macedo, que representa a BWA Brasil, confirmou que a empresa tinha filial em Santos. De acordo com ele, o mercado de bitcoins é volátil e a organização está empenhada em ressarcir todos os investidores.

"Se a empresa não tivesse interesse em pagar os investidores, ela não apresentaria um plano de recuperação judicial", diz. Conforme explica Macedo, o pedido foi essencial, porque mais de 50% dos negócios da plataforma eram feitos via Bitcoin Banco, que pediu recuperação judicial em novembro do ano passado.

Conforme aponta o advogado, após a recuperação judicial do Bitcoin Banco, muitos investidores da BWA solicitaram saques, e a empresa ficou em uma situação muito ruim, não tendo como pagar todo mundo. Então, fez o pedido de recuperação judicial para reorganizar e reestruturar a companhia.

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) deferiu o pedido de recuperação da empresa BWA Brasil no último dia 8. A decisão foi do juiz Marcelo Barbosa Sacramone, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, que definiu a empresa Lastro Consultores para administrar a recuperação do negócio.

De acordo com o magistrado, o primeiro relatório financeiro deste processo deverá ser apresentado em 15 dias. "Especial atenção deverá ser dedicada à fiscalização das atividades das devedoras, o que também se estende ao período anterior à data do pedido, a fim de se apurar eventual conduta dos sócios e administradores que possam, culposa ou dolosamente, ter contribuído para a crise", disse o juiz na decisão.

Ainda segundo o advogado, a empresa não conseguia dar retorno financeiro aos investidores desde o fim do ano passado, e a pandemia do novo coronavírus impediu a recuperação do negócio nesse primeiro semestre de 2020.

"Quando você entra com uma recuperação judicial, você oferece um plano de ressarcimento daqueles valores. O mercado de criptomoedas é como você aplicar em ações, tem a alta e a baixa. A empresa tem um crédito já aplicado junto à recuperação judicial que é mais do que suficiente para atender essa demanda. A BWA se expôs à Justiça apresentando a situação dela e reconhecendo todos os credores que tem. Se fosse uma pirâmide, a Justiça não teria aceitado o plano de recuperação. Todos os procedimentos adotados por ela na contabilidade, movimentação bancária, serão disponibilizados para o juiz", relata.

A Polícia Civil informou ao G1 que o caso é investigado pela 1ª Delegacia do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), mas está em segredo de Justiça.