Por G1 Santos
O prefeito de Guarujá, no litoral de São Paulo, causou revolta ao postar um vídeo, nas redes sociais, afirmando que um jovem da cidade havia ingerido veneno de rato antes de morrer. O caso ganhou repercussão após uma funcionária da prefeitura afirmar que o rapaz estava recebendo atendimento em uma Unidade de Saúde da cidade quando, na verdade, já estava morto.
No vídeo, o prefeito Válter Suman (PSB) fala sobre as causas da morte do jovem Paulo de Jesus dos Santos, de 16 anos, que deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Enseada em estado grave e não conseguiu uma vaga na UTI a tempo. Ele não resistiu e acabou morrendo.
Adolescente morre após ficar internado por quatro dias em UPA esperando por vaga em UTI. — Foto: Arquivo Pessoal
O caso repercutiu quando uma funcionária da Secretaria de Saúde de Guarujá, Kátia Ferreira, comentou em uma publicação da família do jovem, que fazia um apelo às autoridades pedindo por uma vaga na UTI. No comentário, a funcionária pública dizia que ele havia sido transferido para um hospital e celebrava a competência da gestão, uma hora após o adolescente morrer, ainda na UPA.
Em entrevista ao G1, a irmã do adolescente, Gisleine Santos, diz que sentiu que o prefeito teve intenção de desmoralizar a família ao publicar o vídeo. "Ele quis colocar a população contra a nossa família. Não tínhamos divulgado o que havia acontecido com ele. Era nosso direito e isso foi roubado da gente”, afirma.
“Queria que ele tivesse falado algo para nos confortar, prometer que isso não aconteceria mais com os nossos jovens, mas ele se fez de vítima e banalizou a gente”.
Em um desabafo publicado nas redes sociais, a mãe do jovem, Gicelia Santos, comenta o vídeo publicado pelo prefeito da cidade. "Eu só queria uma vaga na UTI para ele ter uma chance de lutar pela vida", diz um trecho do texto. "Nós não viemos às redes sociais falar sobre o que ele [o jovem] fez, viemos lutar por uma vaga. Só queríamos uma vaga".
Mãe de jovem publica desabafo após assistir vídeo de prefeito sobre a morte de seu filho. — Foto: Reprodução/Facebook
A mãe do adolescente diz, ainda, que as enfermeiras que atendiam Paulo avisaram que ele precisava de uma vaga na UTI com urgência e que o pedido já havia sido feito no sistema. No vídeo publicado, o prefeito afirma que o estado de saúde delicado do garoto, "em razão do alto grau de intoxicação, impedia a transferência imediata para uma UTI".
"Não importa a causa que levou ele ficar nesse estado, o que importa é que se tratava de uma vida, a vida de uma criança", desabafa a mãe.
O texto continua. "Ele tinha o direito de que lutassem pela vida dele, tinha o direto de receber a vaga na UTI e o tratamento adequado", diz. "Aí sim, se depois disso ele viesse a óbito, nossos corações ficariam mais aliviados, pois saberíamos que tudo que poderia ser feito por ele foi feito. Agora ficamos com essa dor enorme sem saber se ele teria a chance de sobreviver ou não".
Procurada pelo G1, a Prefeitura de Guarujá disse, em nota, que "em nenhum momento do vídeo foi mencionada eventual hipótese de suicídio, nem mesmo a palavra "suicídio" em si, mas, apenas, "ingestão de chumbinho", sem especificar as circunstâncias do acontecimento".
E acrescenta, ainda, que "o vídeo foi feito apenas e tão somente com o intuito de dar uma explicação técnica a respeito de um assunto que já vinha sendo largamente divulgado, inclusive por pessoas ligadas ao paciente, no Facebook, para publicizar a tentativa de obtenção de uma vaga de UTI para o paciente, causando grande comoção social no ambiente virtual".
Confira o texto que foi publicado pelo prefeito junto com o vídeo na íntegra:
Prefeito de Guarujá divulga causas da morte de adolescente que aguardava vaga na UTI. — Foto: Reprodução/Facebook
"Sobre o caso do paciente Paulo de Jesus dos Santos, que deu entrada na UPA Enseada em estado grave, em razão de uma ingestão, em grande quantidade, de produto clandestino utilizado como raticida, popularmente conhecido como "chumbinho", relatada pelos seus familiares e com sinais clínicos correspondentes ao caso, tudo o que estava ao alcance da rede municipal de Saúde foi feito. O paciente foi atendido de imediato, sendo seguido o protocolo padrão.
Seu delicado estado de saúde, em razão do alto grau de intoxicação, impedia a transferência imediata para uma UTI. Mesmo assim, foi solicitada vaga nos sistemas Municipal SISREG e Estadual CROSS, e o paciente passou a aguardar a liberação de vaga. Devido à alta complexidade do quadro clínico, o paciente não apresentou resposta aos procedimentos aplicados e veio a óbito. Fizemos a devida solicitação de vaga em unidade hospitalar, porém em nenhum instante deixamos de prestar o atendimento necessário ao paciente!
É extremamente importante frisar que Guarujá investe em Saúde muito acima dos 15% do orçamento municipal preconizados pela legislação. Além disso, leito de UTI é alta complexidade, responsabilidade dos governos do Estado e Federal. Nenhum município do Brasil tem condições de arcar com os custos do SUS integralmente! Fazemos nossa obrigação, mas não temos como fazer tudo sozinhos. Saúde não tem preço, mas tem custo. E em Guarujá e Vicente de Carvalho está em primeiro lugar, sempre!
Mais uma vez, deixo meu abraço e os sinceros sentimentos a todos os familiares. Que Deus, em sua infinita misericórdia, receba o Paulo em seus braços e dê aos corações da família o conforto e a sabedoria, tão importantes neste momento."