Seu Marcos voltou a estudar na EJA da EMEF Raul Rocha do Amaral, após sete décadas longe da sala de aula

 

Em uma época em que frequentar escola não era para todos, o aposentado Marcos Júlio de Sousa, hoje com 80 anos, foi uma das muitas crianças a ter que abandonar os estudos ainda no primário (equivalente aos anos iniciais do Ensino Fundamental). Passadas quase sete décadas, o vendedor autônomo aposentado deu uma lição de vida e voltou à escola para cursar a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), da EMEF Raul Rocha do Amaral, situada no Jardim Irmã Dolores, Área Continental do Município – bairro onde mora desde os anos 1970. No momento, cursa o 6º ano do Ensino Fundamental.

Mas o que levou seu Marcos a retornar a um banco escolar? Para entender bem essa história, é preciso saber que ele nunca quis largar os estudos. “Morava em Conceição do Mato Dentro, uma cidade rural no interior de Minas Gerais, e só havia escola gratuita até a quarta série. Minha mãe havia morrido e cheguei a frequentar um colégio de padre, mas meu pai não tinha como pagar”. Apesar das limitações financeiras da família, a ideia de voltar à sala de aula continuou durante um tempo. Aos 12 anos, já em Belo Horizonte, começou a trabalhar de pedreiro e passou a custear os estudos com o seu salário. Mas como nem sempre havia serviço, meses depois desistiu.

Já na vida adulta, foi morar em São Paulo e deixou a ideia de lado por décadas. Até que este ano, ao buscar os netos da escola, percebeu que pessoas quase da sua idade estavam frequentando a EJA. Resolveu retomar tudo.

“Está sendo muito importante para mim. Relembrei coisas que vi quando criança, mas que já tinha esquecido. Mas também aprendi muitas coisas novas”, comemora. A determinação em plena melhor idade se transforma, ainda, em palavras de motivação para outras pessoas. “Eu me arrependo de não ter me matriculado antes. Aconselho a todos – criança, jovens e adultos – a nunca pararem de estudar, porque a escola é sempre o melhor caminho a ser seguido”.

Para o octogenário, a escola abre a mente das pessoas: “Nunca é tarde para aprender. E quanto mais a gente aprende, melhor. Eu falo que o nosso cérebro é muito grande. Cabe muito conhecimento nele”.

Exemplo – Professor de Língua Portuguesa, Rivaldo Guedes da Costa Jr não economiza elogios. “Excelente aluno, um exemplo de vida aos demais alunos. Na escola a vida, está muito além de mim”, comenta, destacando que nas aulas da literatura, seu Marcos fala de sua vivência sobre situações retratadas nos livros. “É um grande homem, que merece todo nosso respeito e admiração. Ele está aqui para aprender, mas nós aprendemos muito com ele”, afirma o assistente de direção da unidade, André Zeferino Oliveira.

Há vagas - Atualmente, a EMEF Raul Rocha do Amaral tem cursos da modalidade EJA desde o 1º até o 9º ano do Ensino Fundamental, atendendo a 140 alunos no período noturno. As aulas são presenciais e acontecem de segunda a sexta-feira. Para o próximo ano, as inscrições já estão abertas. Basta comparecer na secretaria da unidade, das 8 às 17h, apresentando cédula de identidade (RG) e comprovante de residência. O endereço é Rua Belo Horizonte, 273 – Jardim Irmã Dolores.