A perda do emprego e a redução da renda são principais causas da inadimplência no país. É o que constatou uma pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito, o SPC Brasil. A pesquisa foi feita com 600 consumidores com contas em atraso há mais de três meses, acima de 18 anos, de ambos os gêneros, de todas as classes sociais e que residem nas 27 capitais do país.

Foi exatamente isso que aconteceu com um jornalista e comerciante de 55 anos, morador do Rio Grande do Sul, que preferiu não se identificar. Ele trabalhou durante sete anos e meio em uma empresa da área agrícola, até que recebeu o convite para dirigir um grupo de lojas no Paraná. Segundo ele, as coisas não correram como previsto e, por isso, decidiu sair do emprego. Foram mais de 120 dias desempregado, até que conseguiu se realocar no mercado, recebendo um salário quatro vezes menor.

“Você acaba se descapitalizando, você acaba ficando sem ter para onde correr. Primeiro, fica inadimplente. Então, eu consegui me reposicionar com salário quatro vezes menor. Isso te traz um impacto que, para colocar a casa em dia, você leva também quatro vezes mais tempo que você levaria se conseguisse se reposicionar com as mesmas condições ou condições semelhantes, ao que você recebia anteriormente, o que comigo não aconteceu”, conta.

Segundo o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, o que mais preocupa é 46% dos entrevistados sabem pouco ou nada sobre o valor de suas contas básicas, como luz, água, telefone, aluguel, plano de saúde, condomínio e mensalidade escolar. Outros 53% admitem ter pouco conhecimento em relação à própria renda do mês, entre salários, recebimento de aluguéis e demais rendimentos. Mais da metade (52%) também desconhece o número total de parcelas das compras realizadas por meio do crédito.

“Há uma falta de planejamento nas famílias. Planejamento este que não é tão complicado. Afinal, as pessoas poderiam, ao menos, ter anotado e ter feito aí uma melhor análise dos seus gastos básicos, como água, luz, telefone, condomínio, aluguel, ou seja, aquelas despesas básicas das quais nós não conseguimos escapar todos os meses”, disse.

Morador de São Paulo, Gilson Luis Vecchiato, de 38 anos, sabe bem das contas que têm que pagar, mas está na fila do desemprego há cerca de um mês.

“Graças a Deus, eu tenho a minha esposa, que ajuda muito em casa. Porém, as contas chegam e a gente fica completamente para baixo, uma sensação de impotência mesmo. É complicado. Ainda mais nos tempos de hoje, na situação em que o país se encontra”, relata.

Assim como Gilson, o país ainda tem 12,6 milhões de pessoas em busca de trabalho. A informação foi divulgada na última sexta-feira (30), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.