DO G1 SANTOS
O empresário Eduardo Oliveira Cardoso, de 43 anos, é procurado pela Polícia Federal por suspeita de participar do envio de pelo menos seis toneladas de cocaína à Europa por carregamentos no Porto de Santos (SP) e outros complexos brasileiros. Ele aparece em um vídeo, em um galpão frigorífico, durante a ocultação de droga em carga de fígado de frango congelado.
Cardoso é apontado como integrante da quadrilha que foi desarticulada na terça-feira (27) durante a operação Alba Vírus, que apreendeu mais de R$ 28 milhões em espécie, 10 carros de luxo, 26 caminhões e R$ 23 milhões em imóveis de alto padrão. Doze pessoas foram presas e cinco permanecem foragidas, entre elas o empresário do ramo portuário.
Eduardo Cardoso se identifica como CEO da Broker, fundada em 2002 e que tem sede administrativa em um edifício em área nobre em Santos, no litoral paulista. Nas imagens divulgadas pela PF, encontrada em celulares apreendidos durante a fase inicial da investigação, ele aparece conferindo a ocultação de tabletes de cocaína em meio à carga de frango congelado.
A gravação ocorreu no final de 2018 em um galpão da empresa, localizado na Grande São Paulo, e o carregamento foi despachado por Paranaguá (PR). O vídeo, segundo a delegada federal Fabiana Lopes Salgado, responsável pelas investigações, servia como um comprovante do serviço de venda e transporte da droga aos recebedores na Europa.
A maneira como a cocaína foi escondida chamou a atenção da Polícia Federal para um carregamento de 1,4 tonelada de cocaína encontrada em julho deste ano, no Porto de Santos, da mesma maneira: escondida em meio à carga de frango em contêineres frigoríficos. A empresa de Eduardo também estava envolvida no despacho desta carga.
Tabletes de cocaína em carga de frango no Porto de Santos, SP, em julho — Foto: Divulgação/Receita Federal
Nas redes sociais, o empresário mantém publicações que mostram a vida de alto padrão que mantinha e sobre bastidores do trabalho, inclusive compartilhou fotos do mesmo galpão de onde foi filmado na ocasião da ocultação da droga. Em uma postagens, o investigado destaca ainda ações beneficentes, como a doação feitas por ele a entidades.
Ele mora em São Paulo e os endereços dele foram alvos de mandados de busca e apreensão, autorizados pela 5ª Vara Federal de Santos, no âmbito da operação. O empresário, contra quem há um mandado de prisão temporária (válido inicialmente por cinco dias), também não foi localizado e é considerado oficialmente foragido pela Polícia Federal.
Nas redes sociais, empresário ostenta vida luxuosa e mostra bastidores do trabalho — Foto: Arquivo Pessoal
Quadrilha
Apesar da atuação, Eduardo não é apontado como líder da organização. Segundo a Polícia Federal, a chefe é Karine de Oliveira Campos, que já responde a três processos por tráfico internacional em liberdade. Ela também está foragida, assim como marido, Marcelo Mendes Ferreira, principal comparsa e responsável pela logística do esquema.
Outros dois procurados são Éder Santos da Silva, investigado em 2008 durante a Operação Contato da Polícia Federal na Bahia, também pelo mesmo tipo de crime, e José Carlos dos Santos Beserra, preso por roubos a banco nos anos 2000 e dono de um imóvel em Guarujá, no litoral paulista, onde havia uma sala secreta para guardar drogas e armas.
Mais de 1,3 tonelada de cocaína foi localizada pela PF em Guarujá, SP — Foto: G1 Santos
Foi nesta casa, em fevereiro deste ano, que o ex-PM Mario Marcio da Silva, foi preso com mais de uma tonelada de cocaína e R$ 1 milhão em espécie, conforme o G1 noticiou na época. Este mês ele foi condenado, também pela 5ª Vara Federal de Santos, a mais de 14 anos de prisão por tráfico internacional em decorrência do flagrante.
A prisão do PM reformado, em Guarujá, ocorreu após monitoramento das equipes das PF em Santos e da Bahia, que já investigavam o local e o alvo. No flagrante, foram localizados 21 celulares com imagens que contribuíram para a deflagração da operação Alba Vírus, evidenciando o esquema criminosos e os envolvidos.
O delegado Ciro Tadeu Moraes, chefe da PF em Santos, explicou que os criminosos identificados tinham "organização recente". Segundo ele, toda a quantia apreendida na operação, assim como os bens, são decorrentes da venda do entorpecente a narcotraficantes europeus. Não há informações de que outros agentes financiavam o esquema ilícito.
Malas cheias de dinheiro foram encontrados durante a Operação Alba Virus — Foto: Polícia Federal
Já foram localizados e presos por ordem de mandados de prisão temporária:
- Sandra de Oliveira: mãe da líder do esquema, Karine, e realizou depósitos milionários;
- Damaris de Almeida dos Santos Andrade: amiga de Karine e realizou depósitos milionários;
- Janone Prado: companheiro de Damaris e atua na logística da droga;
- Marli Aparecida de Andrade Santana: amiga de Karine e "testa de ferro" em vários negócios;
- André Luis Gonçalves: atua na parte logística e financeira do grupo;
- Wanderley Almeida Conceição: atua na logística e distribuição de droga;
- Anderson Gomes Alvarenga: possui movimentações milionárias de valores em espécie;
- Josiele Santos Fonseca: efetuou depósitos milionários em espécie e como inaugurou salão de beleza na Avenida Ana Costa, em Santos;
- Aline Aparecida Souza dos Santos: participação não informada;
- Carlos de Figueiredo Marinho: participação não informada;
- Cristiano Lino Menezes: participação não informada;
O pai de Karine, Antônio da Costa Campos, também era alvo inicial e uma ordem de prisão também foi expedida pela justiça. Entretanto, ele morreu afogado em uma praia de Itajaí antes da deflagração da operação. Segundo a PF, ele participava dos negócios do grupo, possui diversos imóveis, mas não tem "lastro patrimonial" que os justifique.
A defesa do ex-PM Mario Márcio da Silva afirma que o cliente é inocente e, na ocasião da sentença, disse que recorreria da pena.
O G1 não conseguiu contato com os demais investigados presos, foragidos e com os representantes da empresa localizada em Santos até a última atualização dessa reportagem.
Alba Virus
Duas pessoas foram presas na capital paulista, uma na Bahia e o restante em Santa Catarina. Em Itajaí (SC) foi para onde a quadrilha migrou na ocasião a prisão do ex-PM em Guarujá, justamente para tentar despistar as autoridades. Entretanto, os bens que acumularam e mantinham pelas cidades chamaram a atenção da Polícia Federal.
A Operação Alba Virus, que significa veneno branco em latim, cumpriu 42 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Bahia, e 12 mandados de prisão temporária - 5 ordens de prisão permanecem em aberto. Todas as ordens foram autorizadas pela 5ª Vara Federal de Santos em julho.
Polícia Federal leva pastas e documentos para a sede de Santos, SP — Foto: Andressa Barboza/G1