Critica Adoro Cinema:

 

Há vários parques dos sonhos dentro de O Parque dos Sonhos. O primeiro deles existe na cabeça da garotinha June e de sua mãe, concebendo juntas um local onde todas as brincadeiras seriam possíveis. Este espaço inacessível é representado pelas falas das duas, pelo olhar encantado da garota, pelo incentivo da mãe. Depois, existe o parque de cartolina e papel, criado por ambas dentro do quarto. É uma versão caseira que se converte, aos olhos da criança, na representação perfeita do universo mágico. Em seguida, existe a concretização do parque como utopia – quando a garota se perde na floresta, ela encontra o parque real, colorido e engraçado, diante de seus olhos -, e como distopia, quando o cenário é corroído, sujo, destruído.



A animação brinca muito bem com estes diversos registros, situados em níveis que vão do real à imaginação. Para o diretor Dylan Brown e sua equipe, esta constitui a oportunidade de explorar múltiplos estilos de desenho, de ritmo, de representação do real. Em sua configuração aparentemente simples, o parque – composto das atrações básicas, como rodas gigantes e montanhas-russas – representa um cenário riquíssimo, capaz de se transformar diante dos nossos olhos, ganhar tanto contornos analógicos, bem próximos do realismo (os brinquedos de ferro, as garras de aço, as roldanas e polias), quanto possibilidades mágicas, a exemplo da caneta que desenha novas atrações com a força do pensamento. O parque é muito mais do que uma aglomeração de brinquedos: ele representa toda a psique infantil, onde coabitam sentimentos de alegria, tristeza, raiva etc.



 



O “Wonderland” se torna a ilustração exata do transtorno vivido por June quando sua mãe adoece e fica internada no hospital. Sem acompanhar a estadia da paciente – nosso olhar se cola ao da menina, presa em casa – o filme prepara a jovem para o possível luto através da metáfora do parque. Neste espaço, ela encontra um macaco cujo comportamento é muito semelhante ao seu, descobre com os animais a importância da ajuda e a necessidade de se afastar, às vezes, da pessoa amada. A escuridão que toma conta do lugar representa o medo e a tristeza da garota. Por mais fantástico que pareça este universo, ele se torna profundamente real em sua leitura de sentimentos universais. June se torna uma personagem interessante por suas pulsões contraditórias, com as quais qualquer um poderia se identificar.

 

 

Uma ótima semana e excelentes insights ...

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