“Nem mais um passo atrás, manicômio nunca mais”; “cinema, futebol, saúde e amizade, estamos defendendo o cuidado em liberdade”; “vamos voar e respirar a vida”. Estes são apenas alguns versos da canção composta pelos pacientes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) adulto e infantojuvenil na Zona Noroeste, em Santos, para o “Sarau da Mental”, na manhã desta quinta-feira (15) — véspera do Dia Nacional da Luta Antimanicomial — no CAPS-ZNO e no Jardim Botânico Chico Mendes.
Iniciativa da Secretaria de Saúde (SMS), o evento foi organizado pelas equipes do CAPS-ZNO em conjunto com o CAPS Infantojuvenil Entrementes, na Zona Noroeste (CAPSi Entrementes) e contou com exposição de cartazes feitos pelos pacientes, atividades musicais, oficinas, rodas de conversa, grupos terapêuticos, entre outros. Houve até quem arriscasse manobras de skate embaladas pelo som do pandeiro tocado por um dos pacientes.
“Este evento é um exemplo para repetirmos mais vezes, ele reforça o compromisso de Santos com a luta antimanicomial. Mais do que uma ação terapêutica, é uma afirmação de que o cuidado em saúde mental deve ultrapassar os muros das instituições, até mesmo dos CAPS. A terapia extra-muros fortalece vínculos, promove a autonomia e combate o estigma. O paciente de saúde mental tem direito à cidade, ao convívio e ao pertencimento. Cabe a nós viabilizar o acesso desses pacientes para que ele esteja onde quer estar”, destaca o coordenador do Departamento de Saúde Mental da SMS, Alexandre Bastazini.
O evento contou, também, com apoio da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade, que cedeu o espaço no Jardim Botânico.
PARCERIA
A chefe de seção do CAPSi Entrementes, Alessandra Maria de Paula, ressalta a importância da união das duas unidades no atendimento ao público da região. "Nos juntamos para realizar um evento para comemorar uma data tão importante, pensando no cuidado em liberdade, no que fazemos para poder ajudar os nossos usuários, os nossos munícipes. Por uma sociedade sem manicômios”.
“Muita gente ainda tem um pensamento antigo, de que o paciente tem que ficar institucionalizado, só que tem diversas formas para conseguir tratar esse paciente. A institucionalização não trata, ela esconde o problema”, afirma Marcella Lucas Oliveira Tavares, responsável pelo CAPS-ZNO.
A paciente D., de 43 anos, aproveitou o evento no Centro da Zona Noroeste junto com o pai. “O tratamento é muito importante para ajudar os pacientes a vencer dificuldades na vida. O CAPS está aqui para ajudar”, ela explica.
“Ela tem acesso aos remédios aqui, os eventos também fazem bem, ela costuma frequentar a reunião das mulheres semanalmente”, conta o pai dela.
VANGUARDA
Santos é pioneira no cuidado com a saúde mental à nível nacional. No ano de 1989, a Prefeitura realizou uma intervenção que fechou as portas da Casa de Saúde Anchieta, fato que é considerado o marco inicial da luta antimanicomial do país.
Com o fechamento, se seguiu uma reforma psiquiátrica que deu origem aos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS), que posteriormente se tornaram os CAPS. Depois de um tempo, a iniciativa se tornou política pública em todo o Brasil.
“O que tínhamos com os manicômios era um tratamento sub-humano, onde os pacientes eram sujeitos à condições análogas à tortura. Nossa obrigação como Cidade é nos mantermos à frente desta luta e voltar ao protagonismo na atenção à saúde mental”, afirma Alexandre Bastazini.
Esta iniciativa contempla o item 3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Saúde e Bem-Estar. Conheça os outros artigos dos ODS