No começo de 2025, a administração dos Estados Unidos, sob o comando de Donald Trump, determinou a suspensão temporária do financiamento internacional por um período de 90 dias. O argumento apresentado foi a necessidade de reavaliar o impacto dessas iniciativas na política externa do país. Essa medida afetou diretamente o Brasil, comprometendo o Programa de Gestão Florestal e Controle de Incêndios, uma parceria entre o Serviço Florestal dos EUA (USFS) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), financiada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
Essa colaboração era essencial no combate a incêndios florestais, promovendo treinamentos técnicos e fornecendo recursos cruciais para a conservação ambiental. Com a interrupção desse suporte, surgem incertezas sobre a continuidade das ações voltadas à gestão sustentável das florestas. Este artigo analisa os impactos dessa decisão, os desafios para a política ambiental brasileira e as possíveis soluções para minimizar os danos.
Efeitos da Suspensão na Prevenção de Incêndios
A paralisação dessa cooperação afeta diretamente as iniciativas de combate às queimadas no Brasil. Um dos principais impactos é a diminuição da capacitação de brigadistas, já que o programa havia treinado mais de 3 mil profissionais, incluindo indígenas e mulheres, ampliando a participação das comunidades na proteção florestal. Sem o suporte técnico e financeiro, os treinamentos podem ser interrompidos, comprometendo a renovação da força de combate ao fogo e dificultando a resposta a emergências ambientais.
Outro efeito crítico é a fragilização da infraestrutura de prevenção. O acordo fortalecia órgãos ambientais como Ibama, ICMBio e Funai, possibilitando a aplicação de estratégias mais eficientes na gestão florestal. Sem essa colaboração, a criação e manutenção de políticas preventivas contra incêndios enfrentam desafios adicionais. Além disso, programas voltados à preservação de Áreas de Proteção Permanente (APPs) e reservas extrativistas podem sofrer cortes, reduzindo a eficácia das ações ambientais.
A vulnerabilidade de regiões críticas aumenta significativamente. Estados como Amazonas, Pará, Mato Grosso e Maranhão, que registram altos índices de queimadas anualmente, podem sofrer prejuízos severos com a interrupção da parceria. A Amazônia e o Pantanal, ecossistemas altamente sensíveis ao fogo, tornam-se ainda mais suscetíveis à perda de biodiversidade e agravamento dos efeitos das mudanças climáticas. Além disso, comunidades indígenas e ribeirinhas, que dependiam desse suporte técnico para minimizar os impactos das queimadas, terão menos recursos disponíveis, dificultando sua resiliência ambiental.
Histórico da Cooperação entre Brasil e EUA
Desde 1999, Brasil e Estados Unidos mantêm uma parceria para combater incêndios florestais e promover o manejo sustentável das florestas. O Serviço Florestal dos EUA (USFS) e o Ibama colaboram na troca de conhecimento e apoio técnico. Em 2021, foi lançado um projeto de cinco anos para ampliar essas ações, fortalecendo a resposta a queimadas, aprimorando treinamentos e modernizando equipamentos. Financiado pela USAID, o programa trouxe avanços notáveis, como monitoramento remoto de áreas vulneráveis, uso de drones e aeronaves para detectar focos de calor e políticas mais eficientes de prevenção de incêndios em áreas protegidas e territórios indígenas.
Motivações para a Suspensão
A administração Trump justificou a suspensão da assistência internacional por motivos políticos e estratégicos, alegando que os investimentos deveriam ser priorizados internamente. Essa reestruturação da política externa americana busca destinar mais recursos ao fortalecimento interno, segurança nacional e controle do déficit fiscal, reduzindo gastos com programas externos. A decisão gerou críticas de ambientalistas e especialistas, que alertam sobre os impactos negativos para a conservação ambiental. No Brasil, que já enfrenta dificuldades na fiscalização ambiental devido a cortes de verbas, a interrupção desse apoio pode comprometer ainda mais a capacidade de combate aos incêndios florestais.
Desafios para a Política Ambiental Brasileira
Com a retirada do suporte americano, o Brasil precisará encontrar meios alternativos para sustentar suas iniciativas de prevenção e combate ao fogo. O aumento da dependência de recursos internos exigirá um esforço maior dos governos federal e estaduais, embora o orçamento dos órgãos ambientais já enfrenta limitações que podem dificultar a continuidade das ações anteriormente financiadas pelos EUA.
Além disso, o monitoramento e a fiscalização podem ser prejudicados. Sem o suporte técnico americano, a vigilância remota das áreas de risco pode ser afetada, dificultando a resposta rápida a incêndios. A fiscalização contra queimadas ilegais também pode perder eficiência, já que a falta de financiamento e tecnologia reduz os mecanismos de controle.
Possíveis Alternativas para Mitigar os Danos
Apesar das dificuldades, algumas estratégias podem ajudar a reduzir os impactos dessa suspensão. Uma opção é buscar novos parceiros internacionais, como União Europeia e Canadá, que podem substituir o financiamento dos EUA. Além disso, instituições como o Banco Mundial e o Fundo Amazônia podem oferecer apoio financeiro.
O aumento do investimento interno também se torna essencial. O governo deve priorizar a destinação de recursos para órgãos ambientais e incentivar a participação do setor privado no financiamento de iniciativas sustentáveis. Campanhas de conscientização e incentivo ao manejo sustentável das florestas podem contribuir para reduzir os riscos de queimadas.
O advogado Dr. João Valença, do VLV Advogados, destaca que a suspensão da cooperação internacional reforça a necessidade de um arcabouço jurídico robusto para a proteção ambiental. “O Brasil tem um dever constitucional de preservar seus biomas, e essa responsabilidade não pode depender apenas de apoios externos”, afirma.
Conclusão
A interrupção do apoio dos EUA ao Brasil no combate a incêndios florestais representa um grande desafio para a política ambiental do país. Sem o suporte técnico e financeiro americano, será necessário adotar novas estratégias para manter as ações de prevenção e resposta ao fogo, especialmente em regiões vulneráveis como a Amazônia e o Pantanal.
Esse cenário destaca a urgência de fortalecer investimentos internos e diversificar fontes de financiamento para a conservação ambiental. Estabelecer novas parcerias internacionais e incentivar o setor privado podem ser caminhos estratégicos para garantir a continuidade dos avanços alcançados nos últimos anos.
A proteção das florestas brasileiras é um compromisso global. Medidas eficazes devem ser adotadas para minimizar os impactos da suspensão da ajuda americana e assegurar que os esforços no combate às queimadas continuem gerando resultados positivos.