Uma mudança na organização da escola em meio à adolescência explica parte dessa questão. Saiba o que está sendo debatido por especialistas e fique por dentro de recomendações para tornar essa etapa mais acolhedora
por Ruam Oliveira 21 de agosto de 2024
Os anos iniciais do ensino fundamental apareceram no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2023 com bons resultados. O índice que mede a qualidade da educação no país revelou que essa etapa de ensino alcançou a meta estipulada (6), mas deixou à mostra que os anos seguintes enfrentam muitos desafios.
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A universalização dos anos iniciais, ou seja, a garantia de acesso e a permanência no sistema educacional neste período que vai do 1º ao 5º ano, é quase uma realidade. De acordo com os dados divulgados pelo governo, 92,2% das matrículas para essa fase foram preenchidas. O mesmo não acontece na transição para a etapa seguinte: há uma queda de quase 10% (82,5%) em relação ao ingresso no 6º ano, primeiro dos anos finais do ensino fundamental.
“A grande questão é que a desigualdade social e econômica implica muito nas condições que as crianças e pré-adolescentes têm para permanecer na escola. Além das altas taxas de retenção, o 6º representa uma transição muito grande”, afirma Pilar Lacerda, integrante do Conselho Nacional de Educação e pesquisadora associada à DGPE/FGV (Diretoria de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais, da Fundação Getúlio Vargas).
A transição dos anos iniciais para os anos finais do fundamental representa uma alteração na lógica estabelecida anteriormente. Se antes os estudantes tinham que se relacionar com menos professores e com outros tipos de conteúdo, nessa nova fase as circunstâncias mudam completamente.
“Quando eles saem do 5º ano e vão para o 6º, se deparam com uma escola que desconhece essa idade – eles ainda são crianças e pré-adolescentes – e são colocados em uma escola que tem muitas disciplinas, muitos professores, o que provoca um trauma, principalmente em quem não tem uma trajetória escolar tranquila”, pontua a educadora.
Números de reprovação crescem
As taxas de insucesso – que correspondem à retenção e ao abandono – entre estudantes que saem do 5º ano e ingressam no 6º são altas. Na rede pública, esses números são ainda mais alarmantes. Os dados saem de 6,2% para 13,8%.
Pilar avalia, contudo, que ao tratar sobre retenção no Brasil, o que está sendo discutido é uma reprovação que não tem relação com a garantia da aprendizagem. Ela nomeia a ação como algo na maioria das vezes punitivo para o estudante.
“Quando se pergunta por que o aluno está sendo reprovado, a resposta é porque ele não aprendeu, mas grande parte das escolas não sabe responder o porquê de ele não ter aprendido”, destaca.
A pesquisadora argumenta que não se trata de proibir a reprovação, mas de criar mecanismos avaliativos que sejam mais qualitativos e menos quantitativos, algo que também foi apontado por especialistas na reportagem publicada sobre os resultados do ensino médio
Um período de muitas mudanças
Os fatores que levam um estudante a abandonar ou não ir bem nos estudos são múltiplos, abrangendo desde problemas de aprendizagem até questões socioemocionais ou familiares. A permanência na escola pode ser determinada por uma ou várias dessas dimensões.
Tereza Farias, coordenadora geral de ensino fundamental da DPDI (Diretoria de Políticas e Diretrizes da Educação Integral Básica), órgão ligado à Secretaria de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação), afirma que esse momento de transição é complexo porque é quando o estudante está vivendo um boom de desenvolvimento.
“É uma mudança na dimensão humana – com a puberdade e a pré-adolescência – muito casada com esse momento em que ele experimenta uma nova complexidade de organização da escola, com múltiplos professores e cada um com uma metodologia diferente”, afirma.
Tanto Pilar quanto Tereza avaliam que um caminho necessário é planejar estratégias de acolhimento desses estudantes que vivenciam esses diferentes tipos de transição. “Pensar em transições que apoiem e acolham esse estudante é uma estratégia que tende a minimizar um pouco os efeitos dessa irregularidade nas trajetórias estudantis”, destaca Tereza.