Situação aconteceu no domingo (4), em Praia Grande. Funcionário da prefeitura não forneceu dados para o boletim de ocorrência.


Por G1 Santos

 

Mamadou Ndiaye, de 43 anos, teve a casa invadida por fiscais em Praia Grande, SP (Foto: Arquivo Pessoal)Mamadou Ndiaye, de 43 anos, teve a casa invadida por fiscais em Praia Grande, SP (Foto: Arquivo Pessoal)

Mamadou Ndiaye, de 43 anos, teve a casa invadida por fiscais em Praia Grande, SP (Foto: Arquivo Pessoal)

Dois vendedores ambulantes senegaleses que residem em Praia Grande, no litoral de São Paulo, tiveram sua moradia invadida e foram agredidos por um fiscal municipal no domingo (4). A situação foi denunciada por uma policial militar que dava apoio à Guarda Civil Municipal durante a fiscalização que busca inibir a venda de mercadorias ilegais na cidade.

Tudo aconteceu após fiscais em patrulhamento descerem do carro para abordar um homem que caminhava em direção à praia em frente à Rua Gilberto Amado, no bairro Ocian. O senegalês Mamadou Ndiaye, de 30 anos, percebeu a movimentação e voltou correndo para casa, onde estava seu amigo, Elimane Fall, de 30 anos, de mesma nacionalidade. Segundo o depoimento de uma testemunha, os fiscais e os guardas invadiram o cômodo sem autorização e arrombaram a porta do quarto em que Mamadou se trancou.

Vendo a confusão, Elimane entrou no cômodo para tentar intervir, mas acabou levando um soco de um fiscal da prefeitura, caindo em seguida. Ainda, segundo boletim de ocorrência lavrado na Delegacia Sede do município, os guardas usaram gás de pimenta no ambiente fechado, atingindo crianças e a mãe idosa da declarante, que estavam por perto.

Durante o ocorrido, outros senegaleses que moram próximos ao local perceberam a movimentação e começaram a gritar, enquanto os guardas e fiscais entravam na viatura para deixar o local. Em seguida, a viatura da Polícia Militar que estava no comboio se aproximou e, constatando a situação, solicitou o resgate para socorrer Elimane.

Segundo a PM, houve a orientação para que as partes comparecessem à delegacia para o registro do boletim de ocorrência. Em depoimento, Mamadou afirmou que um dos fiscais apreendeu quatro caixas de som em seu quarto, e que na mochila que carregava no momento da abordagemhavia apenas uma caixa, sua calça jeans e uma camiseta. Já o fiscal que teria agido na confusão negou-se a fornecer seus documentos, orientado por um funcionário da Secretaria de Urbanismo (Seurb) do município, deixando a delegacia em seguida.

'Isso nunca aconteceu'

Senegalês Elimane Fall, agredido por um fiscal de Praia Grande, SP (Foto: Arquivo Pessoal)Senegalês Elimane Fall, agredido por um fiscal de Praia Grande, SP (Foto: Arquivo Pessoal)

Senegalês Elimane Fall, agredido por um fiscal de Praia Grande, SP (Foto: Arquivo Pessoal)

Após a confusão, Elimane foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) do município para a realização de corpo de delito. Ao G1, ele disse que se revoltou com a ação dos fiscais dentro de sua casa.

"Mamadou estava indo trabalhar, eu estava em casa. Quando ele viu o carro da fiscalização, ele voltou, e o fiscal correu atrás. Nisso, ele se trancou no quarto, mas quebraram a porta e pegaram as coisas dele. Eu tentei parar, mas o fiscal me agrediu e jogou gás de pimenta", afirma.

O ambulante disse que entende que o trabalho não é legal, mas que não é certo o que fizeram. "Os ficais já me pegaram três vezes na praia, levaram tudo, mas tudo bem, sei que não estou autorizado. Mas entraram na minha casa, levaram tudo. Por isso briguei. Estou há dois anos no Brasil e isso nunca aconteceu", desabafa.

Em nota, a Prefeitura de Praia Grande, por meio da Secretaria de Urbanismo (Seurb), disse que as ações e informações sobre a ocorrência estão registradas junto à Guarda Civil Municipal, que acompanha com a Polícia Militar e Setran a equipe de fiscalização na Operação Verão. O caso foi registrado na Polícia Civil e a Secretaria de Assuntos de Segurança Pública (Seasp) abriu sindicância interna para apurar a conduta dos guardas que participaram da ocorrência.

A nota ainda reitera que o imóvel onde os senegaleses moram é uma pousada que funciona de maneira irregular, e que já foi notificada pela Seurb para regularizar sua situação ou encerrar as atividades.


Deixe seu Comentário