Cura do câncer, pipa e primeira foto aos 93 anos estão na lista de presentes dos vicentinos

O sorriso sempre estampado no rosto. A roupa vermelha, a barba branca e o gorro completam o visual do Papai Noel. Totalmente caracterizado, ele segue para mais um dia de trabalho. Tem como tarefa ouvir os pedidos de inúmeras crianças e plantar nelas sementes de esperança de dias melhores. O encontro rende grandes experiências para os pequenos, mas também àqueles que incorporam o bom velhinho.

“Eu estava sozinho. Já ia dar o meu horário quando avistei ao final do corredor um senhor e uma menininha. Ela veio saltitando e parou na minha frente. Então abri os braços e esperei o abraço que não veio. Ela ficou me olhando por um tempo. Então dei o abraço nela e ela retribuiu. Olhei para o senhor e ele disse que eu era o primeiro Papai Noel que ela via”, relembra Fábio Luiz da Silva, que trabalha como Noel pelo terceiro ano.

A responsabilidade de marcar a infância das pessoas é grande. Entretanto, às vezes, eles se deparam com pedidos que não conseguem realizar. “Ano passado uma criança, de no máximo sete anos, me pediu para curar sua mãe que enfrentava o câncer”, conta Silva emocionado.

Fernando Rino, outro Noel de São Vicente relata a experiência de se sentir tocado por um simples pedido: “Uma criança, que aparentava ter uns 11 anos, me pediu uma pipa porque a mãe não tinha dinheiro para comprar. As lágrimas caíram. Pedi para uma pessoa próxima comprar a pipa para ele. Mas são raras as vezes que conseguimos fazer isso”.  

As dificuldades ainda ultrapassam os pedidos. Os locais de trabalho exigem muita paciência. “No shopping eu tenho menos tempo com as crianças. A fila é grande e muitos pais reclamam. Eles me apressam, mandam ir logo, mas eu tenho que dar atenção a todos”, explica Rino.

A cobrança vai além da agilidade. Um bom Papai Noel deve manter o sorriso mesmo após horas de trabalho. “As pessoas querem que eu sorria o tempo todo. Quando eu tento descansar a expressão, vem alguém e me pergunta porque não estou rindo”, relata Otanio Eugenio Menezes, o Papai Noel do Shopping Brisamar.

Aprendizados – O trabalho de Papai Noel compensa e também rende aprendizados dizem eles. “As crianças nos dão uma lição de moral muito grande. Percebo que elas têm muito respeito, mais do que os adultos”, destaca Menezes.

Para Rino, o aprendizado é com a pureza que a criança. “Elas têm um entendimento maior de outras possibilidades, não sendo egoístas”. Ele também aproveita a confiança que os pequenos depositam no personagem para dar alguns conselhos. “Tento retirar o desejo consumista que o Natal propõe. Às vezes a criança vem e me pede o celular de última geração. Eu converso e faço-a refletir o porquê precisa disso. Aí eu falo: vou ver no estoque, mas se não tiver tudo bem eu dar outra coisa? E elas falam tudo bem”.

Sobre as crianças que já sabem que o Papai Noel é alguém como qualquer outra pessoa, o bom velhinho responde que “eles entendem que é uma simbologia de esperança e felicidade, então continuam pedindo e acreditando. Isso é muito recompensador”.

Memórias –. As experiências não se limitam as crianças. “Quando a pessoa adulta se predispõe a ser criança, tenho uma devolutiva muito bacana. Tem uns que chegam e brincam “quanto tempo eu não te vejo, você se lembra daquele brinquedo que te pedi?”, imita Rino. O bom velhinho recomenda que os adultos se permitam a voltar à infância por um momento para que o imaginário  se mantenha dentro de cada um.

Fábio Luiz da Silva teve experiências com dois senhores.  Uma delas foi com um morador de rua com mais de 60 anos que nunca tinha tirado foto com o Papai Noel. “A gente tirou, eu revelei pra dar de presente, porém não o encontrei mais. Outra foi uma senhora de 93 anos, ela nunca tinha tirado uma foto também. Ela veio e disse que só tiraria sentada no colo do Papai Noel. Foi engraçado”.

No fim do dia, todos os velhinhos trocam as roupas vermelhas, tiram seu gorro. O característico traje é guardado, mas o ensinamento como Papai Noel segue nos pensamentos dos que dão vida à ilustre figura. Todas as dificuldades, situações vivenciadas, aprendizados e a troca de afeto transformam-se em memórias.

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